1976: Entrevista no Dinah Shore Show, da CBS, em 3 de março
Dinah Shore: Tenho que te perguntar uma coisa… Como é que te sentes quando terminas a tua atuação e ouves esses gritos? (Bowie acabou de cantar Stay, um tema de Station to Station, álbum publicado em janeiro de 1976) Tem que ser do outro mundo!
David Bowie: Oh, é o meu baterista!
Dinah Shore: Ah, ele é que fez isso tudo?
David Bowie: Sim.
Dinah Shore: Oh! E já cá não está… Que pena!
David Bowie: Sim.
Dinah Shore: Quer dizer, não tiveste nada a ver com o caso? O cantor não teve nada a…
David Bowie: Sim, claro que teve.
Dinah Shore: Como é que te sentes depois de um momento destes? Dás tanto de ti!
David Bowie: Não, nem por isso. Penso sempre que deveria repetir.
Dinah Shore: Pensas?
David Bowie: Sim.
Dinah Sore: Acho que todos nos sentimos assim.
David Bowie: Eu nunca… Olá! Perdoem-me! (o público aplaude)
Dinah Shore: Houve tantos David Bowies na abertura do espetáculo… Eu mostrei algumas fotos.
David Bowie: Sim.
Dinah Shore: Muitas delas bastante bizarras. Tens essas fotos? Quero que as vejas e que me fales de cada um desses David Bowies…
David Bowie: Oh, esse era uma… (o público aplaude) Era uma personagem de um conhecido concerto de rock chamado Diamond Dogs. Chamava-se Halloween Jack.
Dinah Shore: E este?
David Bowie: Não sei, tenho estado há algum tempo a viver em Nova Iorque, por isso andava a vestir uma série de roupas porto-riquenhas. (o público aplaude)
Dinah Shore: David, não há indumentárias estabelecidas, não há um feeling pré-estabelecido para o concerto que dás como David Bowie. O que quer que te influencie em cada momento, onde quer que estejas etnicamente…
David Bowie: A tendência é essa. Canso-me facilmente. Movo-me muito por flirts. Sou um grande fã do rock e deixo-me influenciar pelas bandas, outros artistas, e tendo a roubar-lhes algumas coisas…
Dinah Shore: Estás a ser muito modesto. Eu acho que eles te roubam coisas a ti.
David Bowie: Não, não, acho que esse é um dos elementos fundamentais do rock’n’roll.
Dinah Shore: Curiosamente, os teus passos hoje e a tua indumentária, parece-me o tipo de coisa dos anos trinta.
David Bowie: Há atualmente uma onda europeia e grande parte das estilizações, tenho um autor e banda preferidos em Inglaterra, chamada Roxy Music, do Brian Ferry… (o público aplaude) Eu acho que, provavelmente, ele está a encabeçar alguma da melhor música que desde há uns bons anos nasceu em Inglaterra.
Dinah Shore: Estamos a falar muito sobre… há tantas coisas que quero saber sobre ti! Tenho ali o Henry e a Nancy (atores da série Happy Days, uma sitcom que passou no canal ABC entre 1974 e 1984) e eles têm várias perguntas, também querem falar contigo, toda a gente quer saber mais coisas sobre o David Bowie, pelo que estaremos de volta depois de um breve intervalo.
Intervalo
Dinah Shore: Henry Winkler é o David Bowie de Happy Days…
David Bowie: Sou grande fã do Fonzie e também sinto grande admiração pelo Henry enquanto ator.
Henry Winkler: Isso é muito simpático, muito obrigado. Sinto isso como um grande elogio porque de certeza que posso retribuir. Sabes, em tudo o que fazemos, quer sejamos cantores, atores ou bailarinos (falámos sobre isto um bocadinho lá atrás, tive a oportunidade de me encontrar com o David), a concentração é essencial na estrutura…
Dinah Shore: (para Bowie) Estiveste em Nova Iorque com roupas porto-riquenhas, fascinaram-te. Mas achas que isso te mantém ao corrente do momento atual ou muito além do momento atual?
David Bowie: Bom, comecei como pintor.
Dinah Shore: Como artista plástico?
David Bowie: Sim. Mas descobri que era um mau ator num papel exagerado. Estava sempre a exagerar.
Dinah Shore: Só querias estar na dianteira?
David Bowie: E, para mim, o rock’n’roll foi uma forma soberba de libertar esse tipo de energias e podia adotar absolutamente qualquer personagem. E descobri que o rock’n’roll talvez seja o mais recente media Ocidental, o que me interessou e me levou a querer jogar com ele.
Dinah Shore: E nunca tinhas cantado antes disso, nunca tinhas estado numa banda?
David Bowie: Não, continuo a representar mais as canções do que a cantá-las, interpreto-as. Pensei, bem, se a chanson francesa… conseguem safar-se mais ou menos num cantar falado, então eu também poderia fazê-lo…
Dinah Shore: Sim, mas disseste que havia coisas em ti que querias mudar…
David Bowie: Oh, sim! A política de se ser um homem autoinventado é que te despojas de ti mesmo e decides o que não gostas em ti e o que não admites em ti e acabas a ter que encarar tudo. E, aí, tens que decidir se vais mudar alguma coisa ou não.
Dinah Shore: De que é que não gostavas nesse período?
David Bowie: O que não gostava mesmo era da minha incrível timidez. Era uma pessoa incrivelmente tímida. E, então, compensei o facto e pensei que se conseguisse um tipo de reputação assustador, teria que aprender a defender-me e, consequentemente, teria que me abrir…
Dinah Shore: Isso é muito interessante. Porque as pessoas fazem de tudo para serem notadas, mas tu disseste: “Se eu for agressivo, vão zangar-se comigo e vou ter que me defender…” Muito interessante! Voltaremos dentro de instantes!
Dinah Shore: Ouçam… O que o David disse sobre o casamento e acerca de ter casado com a Angela foi: “Não acho que nos tenhamos apaixonado. Nunca estive apaixonado. Graças a Deus!” Que é que isso significa? (o público ri)
David Bowie: Tenho uma enorme capacidade para amar, mas a única vez em que descobri que me estava a apaixonar, tudo se tornou de tal modo obsessivo que o objeto da minha afeição se estava a tornar um enorme exagero… Já não era algo real, estava a transformar-se na minha busca de algum tipo de sentimento mitológico que se supõe que as pessoas tenham e, provavelmente, o sentimento que as pessoas acabam por desenvolver face à descoberta de Deus.
Dinah Shore: Estavas a imaginar a pessoa que amavas…
David Bowie: Sim, é o que se passa quando se coloca alguém num pedestal.
Nancy Walker: Sim, algo de muito difícil para essa pessoa, não é?
David Bowie: Sim, é difícil para a outra pessoa.
Dinah Shore: Achas que teres amado alguém tão fortemente…
David Bowie: Ter estado apaixonado. Muito diferente. Acho que são coisas totalmente diferentes. Amar realmente alguém de todo o coração e estar apaixonado são duas situações muito diferentes. Não acho que estar apaixonado tenha nada a ver com amar alguém.
Dinah Shore: Eu achava que as duas coisas eram bastante sinónimas…
David Bowie: Não, de todo.
Dinah Shore: Quer dizer que podes amar muitas pessoas, mas podes apaixonar-te de forma tão obsessiva que…
David Bowie: Obsessiva, sim. Não te preocupas com a outra pessoa. Trata-se de satisfazer algo que tem que ser preenchido dentro de nós mesmos.
Dinah Shore: Mas não achas que perdes muito por não sentires essas paixões?
David Bowie: Sentem-se as paixões de amar alguém, a forma como queremos tomar conta de alguém e partilhar a vida. E ajudá-las a conseguir o que querem conseguir. Quando estamos apaixonados, queremos que estejam permanentemente connosco.
Dinah Shore: Compreendo… Interessante!
Henry Winkler: É a forma pura do amor… Deixar que a outra pessoa se alimente de…
David Bowie: Sempre me deixei deslumbrar por todas as formas artísticas do século XX. E a minha interpretação é a minha forma de exprimir essas formas. O Expressionismo também. O Dadaísmo. Procuro simplificar tudo isso de modo a poder transmiti-lo. Mesmo se não se compreender a definição, aquilo que eu senti é transmitido.
Dinah Shore: Disseste que se fosses um pensador original não estarias no rock’n’roll…
David Bowie: Com certeza. (sorriso)
Dinah Shore: Mas o rock’n’roll foi muito bom para ti.
David Bowie: Eu fui bom para o rock’n’roll. (a parte final não se encontra em vídeo no Youtube e foi retirada de www.bowiegoldenyears.com).
David Bowie: Oh, é o meu baterista!
Dinah Shore: Ah, ele é que fez isso tudo?
David Bowie: Sim.
Dinah Shore: Oh! E já cá não está… Que pena!
David Bowie: Sim.
Dinah Shore: Quer dizer, não tiveste nada a ver com o caso? O cantor não teve nada a…
David Bowie: Sim, claro que teve.
Dinah Shore: Como é que te sentes depois de um momento destes? Dás tanto de ti!
David Bowie: Não, nem por isso. Penso sempre que deveria repetir.
Dinah Shore: Pensas?
David Bowie: Sim.
Dinah Sore: Acho que todos nos sentimos assim.
David Bowie: Eu nunca… Olá! Perdoem-me! (o público aplaude)
Dinah Shore: Houve tantos David Bowies na abertura do espetáculo… Eu mostrei algumas fotos.
David Bowie: Sim.
Dinah Shore: Muitas delas bastante bizarras. Tens essas fotos? Quero que as vejas e que me fales de cada um desses David Bowies…
David Bowie: Oh, esse era uma… (o público aplaude) Era uma personagem de um conhecido concerto de rock chamado Diamond Dogs. Chamava-se Halloween Jack.
Dinah Shore: E este?
David Bowie: Não sei, tenho estado há algum tempo a viver em Nova Iorque, por isso andava a vestir uma série de roupas porto-riquenhas. (o público aplaude)
Dinah Shore: David, não há indumentárias estabelecidas, não há um feeling pré-estabelecido para o concerto que dás como David Bowie. O que quer que te influencie em cada momento, onde quer que estejas etnicamente…
David Bowie: A tendência é essa. Canso-me facilmente. Movo-me muito por flirts. Sou um grande fã do rock e deixo-me influenciar pelas bandas, outros artistas, e tendo a roubar-lhes algumas coisas…
Dinah Shore: Estás a ser muito modesto. Eu acho que eles te roubam coisas a ti.
David Bowie: Não, não, acho que esse é um dos elementos fundamentais do rock’n’roll.
Dinah Shore: Curiosamente, os teus passos hoje e a tua indumentária, parece-me o tipo de coisa dos anos trinta.
David Bowie: Há atualmente uma onda europeia e grande parte das estilizações, tenho um autor e banda preferidos em Inglaterra, chamada Roxy Music, do Brian Ferry… (o público aplaude) Eu acho que, provavelmente, ele está a encabeçar alguma da melhor música que desde há uns bons anos nasceu em Inglaterra.
Dinah Shore: Estamos a falar muito sobre… há tantas coisas que quero saber sobre ti! Tenho ali o Henry e a Nancy (atores da série Happy Days, uma sitcom que passou no canal ABC entre 1974 e 1984) e eles têm várias perguntas, também querem falar contigo, toda a gente quer saber mais coisas sobre o David Bowie, pelo que estaremos de volta depois de um breve intervalo.
Intervalo
Dinah Shore: Henry Winkler é o David Bowie de Happy Days…
David Bowie: Sou grande fã do Fonzie e também sinto grande admiração pelo Henry enquanto ator.
Henry Winkler: Isso é muito simpático, muito obrigado. Sinto isso como um grande elogio porque de certeza que posso retribuir. Sabes, em tudo o que fazemos, quer sejamos cantores, atores ou bailarinos (falámos sobre isto um bocadinho lá atrás, tive a oportunidade de me encontrar com o David), a concentração é essencial na estrutura…
Dinah Shore: (para Bowie) Estiveste em Nova Iorque com roupas porto-riquenhas, fascinaram-te. Mas achas que isso te mantém ao corrente do momento atual ou muito além do momento atual?
David Bowie: Bom, comecei como pintor.
Dinah Shore: Como artista plástico?
David Bowie: Sim. Mas descobri que era um mau ator num papel exagerado. Estava sempre a exagerar.
Dinah Shore: Só querias estar na dianteira?
David Bowie: E, para mim, o rock’n’roll foi uma forma soberba de libertar esse tipo de energias e podia adotar absolutamente qualquer personagem. E descobri que o rock’n’roll talvez seja o mais recente media Ocidental, o que me interessou e me levou a querer jogar com ele.
Dinah Shore: E nunca tinhas cantado antes disso, nunca tinhas estado numa banda?
David Bowie: Não, continuo a representar mais as canções do que a cantá-las, interpreto-as. Pensei, bem, se a chanson francesa… conseguem safar-se mais ou menos num cantar falado, então eu também poderia fazê-lo…
Dinah Shore: Sim, mas disseste que havia coisas em ti que querias mudar…
David Bowie: Oh, sim! A política de se ser um homem autoinventado é que te despojas de ti mesmo e decides o que não gostas em ti e o que não admites em ti e acabas a ter que encarar tudo. E, aí, tens que decidir se vais mudar alguma coisa ou não.
Dinah Shore: De que é que não gostavas nesse período?
David Bowie: O que não gostava mesmo era da minha incrível timidez. Era uma pessoa incrivelmente tímida. E, então, compensei o facto e pensei que se conseguisse um tipo de reputação assustador, teria que aprender a defender-me e, consequentemente, teria que me abrir…
Dinah Shore: Isso é muito interessante. Porque as pessoas fazem de tudo para serem notadas, mas tu disseste: “Se eu for agressivo, vão zangar-se comigo e vou ter que me defender…” Muito interessante! Voltaremos dentro de instantes!
Dinah Shore: Ouçam… O que o David disse sobre o casamento e acerca de ter casado com a Angela foi: “Não acho que nos tenhamos apaixonado. Nunca estive apaixonado. Graças a Deus!” Que é que isso significa? (o público ri)
David Bowie: Tenho uma enorme capacidade para amar, mas a única vez em que descobri que me estava a apaixonar, tudo se tornou de tal modo obsessivo que o objeto da minha afeição se estava a tornar um enorme exagero… Já não era algo real, estava a transformar-se na minha busca de algum tipo de sentimento mitológico que se supõe que as pessoas tenham e, provavelmente, o sentimento que as pessoas acabam por desenvolver face à descoberta de Deus.
Dinah Shore: Estavas a imaginar a pessoa que amavas…
David Bowie: Sim, é o que se passa quando se coloca alguém num pedestal.
Nancy Walker: Sim, algo de muito difícil para essa pessoa, não é?
David Bowie: Sim, é difícil para a outra pessoa.
Dinah Shore: Achas que teres amado alguém tão fortemente…
David Bowie: Ter estado apaixonado. Muito diferente. Acho que são coisas totalmente diferentes. Amar realmente alguém de todo o coração e estar apaixonado são duas situações muito diferentes. Não acho que estar apaixonado tenha nada a ver com amar alguém.
Dinah Shore: Eu achava que as duas coisas eram bastante sinónimas…
David Bowie: Não, de todo.
Dinah Shore: Quer dizer que podes amar muitas pessoas, mas podes apaixonar-te de forma tão obsessiva que…
David Bowie: Obsessiva, sim. Não te preocupas com a outra pessoa. Trata-se de satisfazer algo que tem que ser preenchido dentro de nós mesmos.
Dinah Shore: Mas não achas que perdes muito por não sentires essas paixões?
David Bowie: Sentem-se as paixões de amar alguém, a forma como queremos tomar conta de alguém e partilhar a vida. E ajudá-las a conseguir o que querem conseguir. Quando estamos apaixonados, queremos que estejam permanentemente connosco.
Dinah Shore: Compreendo… Interessante!
Henry Winkler: É a forma pura do amor… Deixar que a outra pessoa se alimente de…
David Bowie: Sempre me deixei deslumbrar por todas as formas artísticas do século XX. E a minha interpretação é a minha forma de exprimir essas formas. O Expressionismo também. O Dadaísmo. Procuro simplificar tudo isso de modo a poder transmiti-lo. Mesmo se não se compreender a definição, aquilo que eu senti é transmitido.
Dinah Shore: Disseste que se fosses um pensador original não estarias no rock’n’roll…
David Bowie: Com certeza. (sorriso)
Dinah Shore: Mas o rock’n’roll foi muito bom para ti.
David Bowie: Eu fui bom para o rock’n’roll. (a parte final não se encontra em vídeo no Youtube e foi retirada de www.bowiegoldenyears.com).