1977: Entrevista com Michel Drucker para o canal francês TF1, programa Le Rendez-vous du Dimanche, a 16 de outubro (a entrevista é realizada em francês e inglês)
Michel Drucker: Sabem que ao convidar David Bowie estava a convidar uma estrela, um ídolo… Olá, David. Não sabia que isto desencadearia uma tão grande afluência de fotógrafos, nunca se viu nada assim, penso, neste palco… É a sua vida? É a sua vida de todos os dias? Todos os dias é esta a sua vida?
David Bowie: Isto? Não, não, não.
Michel Drucker: Ele é modesto!
David Bowie: É algo de muito ocasional…
Michel Drucker: Sim? Não. Sei que em Tóquio, em Londres e…
David Bowie: Não há nada assim em Banguecoque.
Michel Drucker: Vou pedir aos fotógrafos que se afastem porque vou falar um pouco com David Bowie, não vai ser fácil em termos do som. Muito bem.
David Bowie: Obrigado.
Michel Drucker: Tenho a impressão de estar a receber Jimmy Carter (membro do Partido Democrata, presidente dos Estados Unidos de 1977 a 1981).
David Bowie: Não, não me parece, não.
Michel Drucker: David Bowie, muito obrigado por ter aceitado o nosso convite, já o disse, não concede muitas entrevistas à televisão…
David Bowie: Estou satisfeito por estar aqui.
Michel Drucker: E queria saber o que pensa acerca de tudo o que acontece à sua volta. Como se sente quando vê estes fotógrafos, quando vê as revistas, tem trinta anos, é muito novo, já tem uma carreira de 10 a 12 anos. Está no show business há 11 anos…
David Bowie: Onze anos, sim.
Michel Drucker: Tem a sensação de ser uma estrela, uma estrela de cinema, um cantor…
David Bowie: Um viajante.
Michel Drucker: Um viajante.
David Bowie: Sim, a minha vida é feita de viagens constantes. E este tipo de experiência acontece apenas, talvez, um par de vezes ao ano.
Michel Drucker: Então, o que talvez os franceses desconheçam, os seus fãs, de qualquer modo vou recordá-los disso, é que David Bowie esteve em França há já dez ou onze anos e começou em França no Golf-Drouot (um clube/discoteca parisiense). Está-me a compreender? (Bowie ri) Explico ao público que começou em França…
David Bowie: Sim.
Michel Drucker: … há dez ou onze anos, em 1966, durante um mês, no Golf-Drouot.
David Bowie: Sim.
Michel Drucker: Era o império das bandas de rock da época, certo?
David Bowie: Sim.
Michel Drucker: Lembra-se desse período? Recorda-se desse período da sua vida?
David Bowie: Sim, lembro-me muito bem do clube, ainda consigo visualizá-lo. A minha primeira sessão fotográfica de sempre foi na rua, do lado de fora. E havia um pequeno café na esquina, construído em vidro…
Michel Drucker: Mas… Qual era a música de que gostava, que tocava nessa época? De que tipo de música gostava nessa altura?
David Bowie: Exatamente na altura?
Michel Drucker: Em 1966. Era a mesma música?
David Bowie: O tipo de música que tocava em 66 era muito ruidoso e soava um pouco como aquilo a que se chama punk rock.
Michel Drucker: Punk rock?
David Bowie: Não exatamente igual.
Michel Drucker: Alterou um pouco a sua vida de há uns anos para cá, já que é, também, ator. Mudou a sua forma de estar para fazer um filme.
David Bowie: Sim.
Michel Drucker: O filme era… tenho aqui o título, vai-mo recordar em inglês, é L’Homme qui Venait d’Ailleurs, Ze Man Who Fell to Earss (O Homem que Veio do Espaço), correto?
David Bowie: (risos) Earth!
Michel Drucker: Earth?
David Bowie: Correto!
Michel Drucker: Foi, para si, uma grande experiência?
David Bowie: Uma experiência incrível. Uma experiência muito importante. Sempre quis representar, mas quero realmente realizar filmes e tive a oportunidade de observar um realizador de primeira trabalhar.
Michel Drucker: Era um filme de ficção científica. Gosta desse tipo de filmes? Gosta dos filmes de ficção científica?
David Bowie: Bom, era ficção científica, sim, mas não ficção científica óbvia. A personagem que representei poderia ter vindo do espaço exterior ou poderia ter vindo de um espaço interior.
Michel Drucker: Bom, agora gostaria de saber: porquê esta transformação? Tive muita dificuldade em reconhecê-lo porque não havia maquilhagem nem aquele aspeto estranho que fez de si uma personagem fascinante para os fotógrafos e para o público dos jovens de todo o mundo… Alterou a sua aparência física! Que aconteceu à maquilhagem?
David Bowie: Bom, para cada álbum que fiz criei uma personagem. E os meus dois últimos álbuns não foram álbuns de personagem. Portanto, acho que isto é… mais ou menos real. (risos) Tão real quanto se pode ser nestas circunstâncias.
Michel Drucker: Gosta de cinema. Quer tornar-se uma estrela cinematográfica?
David Bowie: Não. Acho que gostaria de fazer cinco filmes enquanto ator. Com cinco realizadores muito diferentes. E, a partir dessa experiência, gostaria de fazer os meus próprios filmes enquanto realizador.
Michel Drucker: Qual é o cinema de que gosta e que realizadores gostaria de conhecer, Europeus ou Franceses?
David Bowie: Todos. Todos, todos. De (François) Truffaut a (Rainer Werner) Fassbinder… Claro. Mas os filmes de que gosto realmente são os velhos filmes do Expressionismo alemão de Fritz Lang, Wilhelm Pabst…
Michel Drucker: Ele gosta disso, os filmes um pouco intimistas, Fritz Lang, mas filmes intimistas.
David Bowie: Sim.
Michel Drucker: Um pouco íntimos, como o Truffaut…
David Bowie: Sim, mas gostaria de fazer algo meu.
Michel Drucker: E não gosta dos filmes, as grandes superproduções musicais como o Tommy, não gosta do Tommy (ópera rock de 1975, realizada por Ken Russell, com música dos The Who)?
David Bowie: É difícil… Não, não gosto do exagero a essa escala. Prefiro coisas íntimas, como uma miniatura em aguarela.
Michel Drucker: Ele prefere filmes muito mais pequenos, um pouco como que feitos por artesãos. Muito obrigado. Falámos de François Truffaut com o nosso amigo David Bowie, uma personagem que gosta igualmente do cinema de Truffaut, do de Fassbinder e do velho cinema expressionista e intimista alemão de Fritz Lang. Mil obrigados pela sua visita.
David Bowie: Isto? Não, não, não.
Michel Drucker: Ele é modesto!
David Bowie: É algo de muito ocasional…
Michel Drucker: Sim? Não. Sei que em Tóquio, em Londres e…
David Bowie: Não há nada assim em Banguecoque.
Michel Drucker: Vou pedir aos fotógrafos que se afastem porque vou falar um pouco com David Bowie, não vai ser fácil em termos do som. Muito bem.
David Bowie: Obrigado.
Michel Drucker: Tenho a impressão de estar a receber Jimmy Carter (membro do Partido Democrata, presidente dos Estados Unidos de 1977 a 1981).
David Bowie: Não, não me parece, não.
Michel Drucker: David Bowie, muito obrigado por ter aceitado o nosso convite, já o disse, não concede muitas entrevistas à televisão…
David Bowie: Estou satisfeito por estar aqui.
Michel Drucker: E queria saber o que pensa acerca de tudo o que acontece à sua volta. Como se sente quando vê estes fotógrafos, quando vê as revistas, tem trinta anos, é muito novo, já tem uma carreira de 10 a 12 anos. Está no show business há 11 anos…
David Bowie: Onze anos, sim.
Michel Drucker: Tem a sensação de ser uma estrela, uma estrela de cinema, um cantor…
David Bowie: Um viajante.
Michel Drucker: Um viajante.
David Bowie: Sim, a minha vida é feita de viagens constantes. E este tipo de experiência acontece apenas, talvez, um par de vezes ao ano.
Michel Drucker: Então, o que talvez os franceses desconheçam, os seus fãs, de qualquer modo vou recordá-los disso, é que David Bowie esteve em França há já dez ou onze anos e começou em França no Golf-Drouot (um clube/discoteca parisiense). Está-me a compreender? (Bowie ri) Explico ao público que começou em França…
David Bowie: Sim.
Michel Drucker: … há dez ou onze anos, em 1966, durante um mês, no Golf-Drouot.
David Bowie: Sim.
Michel Drucker: Era o império das bandas de rock da época, certo?
David Bowie: Sim.
Michel Drucker: Lembra-se desse período? Recorda-se desse período da sua vida?
David Bowie: Sim, lembro-me muito bem do clube, ainda consigo visualizá-lo. A minha primeira sessão fotográfica de sempre foi na rua, do lado de fora. E havia um pequeno café na esquina, construído em vidro…
Michel Drucker: Mas… Qual era a música de que gostava, que tocava nessa época? De que tipo de música gostava nessa altura?
David Bowie: Exatamente na altura?
Michel Drucker: Em 1966. Era a mesma música?
David Bowie: O tipo de música que tocava em 66 era muito ruidoso e soava um pouco como aquilo a que se chama punk rock.
Michel Drucker: Punk rock?
David Bowie: Não exatamente igual.
Michel Drucker: Alterou um pouco a sua vida de há uns anos para cá, já que é, também, ator. Mudou a sua forma de estar para fazer um filme.
David Bowie: Sim.
Michel Drucker: O filme era… tenho aqui o título, vai-mo recordar em inglês, é L’Homme qui Venait d’Ailleurs, Ze Man Who Fell to Earss (O Homem que Veio do Espaço), correto?
David Bowie: (risos) Earth!
Michel Drucker: Earth?
David Bowie: Correto!
Michel Drucker: Foi, para si, uma grande experiência?
David Bowie: Uma experiência incrível. Uma experiência muito importante. Sempre quis representar, mas quero realmente realizar filmes e tive a oportunidade de observar um realizador de primeira trabalhar.
Michel Drucker: Era um filme de ficção científica. Gosta desse tipo de filmes? Gosta dos filmes de ficção científica?
David Bowie: Bom, era ficção científica, sim, mas não ficção científica óbvia. A personagem que representei poderia ter vindo do espaço exterior ou poderia ter vindo de um espaço interior.
Michel Drucker: Bom, agora gostaria de saber: porquê esta transformação? Tive muita dificuldade em reconhecê-lo porque não havia maquilhagem nem aquele aspeto estranho que fez de si uma personagem fascinante para os fotógrafos e para o público dos jovens de todo o mundo… Alterou a sua aparência física! Que aconteceu à maquilhagem?
David Bowie: Bom, para cada álbum que fiz criei uma personagem. E os meus dois últimos álbuns não foram álbuns de personagem. Portanto, acho que isto é… mais ou menos real. (risos) Tão real quanto se pode ser nestas circunstâncias.
Michel Drucker: Gosta de cinema. Quer tornar-se uma estrela cinematográfica?
David Bowie: Não. Acho que gostaria de fazer cinco filmes enquanto ator. Com cinco realizadores muito diferentes. E, a partir dessa experiência, gostaria de fazer os meus próprios filmes enquanto realizador.
Michel Drucker: Qual é o cinema de que gosta e que realizadores gostaria de conhecer, Europeus ou Franceses?
David Bowie: Todos. Todos, todos. De (François) Truffaut a (Rainer Werner) Fassbinder… Claro. Mas os filmes de que gosto realmente são os velhos filmes do Expressionismo alemão de Fritz Lang, Wilhelm Pabst…
Michel Drucker: Ele gosta disso, os filmes um pouco intimistas, Fritz Lang, mas filmes intimistas.
David Bowie: Sim.
Michel Drucker: Um pouco íntimos, como o Truffaut…
David Bowie: Sim, mas gostaria de fazer algo meu.
Michel Drucker: E não gosta dos filmes, as grandes superproduções musicais como o Tommy, não gosta do Tommy (ópera rock de 1975, realizada por Ken Russell, com música dos The Who)?
David Bowie: É difícil… Não, não gosto do exagero a essa escala. Prefiro coisas íntimas, como uma miniatura em aguarela.
Michel Drucker: Ele prefere filmes muito mais pequenos, um pouco como que feitos por artesãos. Muito obrigado. Falámos de François Truffaut com o nosso amigo David Bowie, uma personagem que gosta igualmente do cinema de Truffaut, do de Fassbinder e do velho cinema expressionista e intimista alemão de Fritz Lang. Mil obrigados pela sua visita.