1983: Entrevista com Susan Sarandon
Susan Sarandon: Ok. Vais sair em tournée pela primeira vez desde há anos. Porquê?
David Bowie: Porquê? Andei todos os anos em tournée desde que era um teenager até ’76 e, francamente, estava farto, já não me dava prazer, acho, arrastar-me pelo mundo fora, andar de hotel em hotel não é divertido, nem nos melhores momentos. E, até certo ponto, trata-se de vegetar. De tal modo que não passa de andar às voltas, fazer as malas e entrar e sair. E ficamos expectantes pelo espetáculo da noite, mas quando o espetáculo já não entusiasma muito porque o fizemos uma e outra vez e ainda outra vez, temos que nos interrogar “para quê chatear-me? Será que vale mesmo a pena?”. Então, parei durante uns bons cinco, seis anos. E, para já, esta vai ser a minha primeira tournée.
Susan Sarandon: E porque é que te sentes pronto para isso?
David Bowie: Porque agora estou entusiasmado com a ideia de atuar.
Susan Sarandon: Como é que consegues manter… um sucesso enorme da forma como o vejo, mesmo entre gente da minha área?
David Bowie: Sim.
Susan Sarandon: Quanto mais sucesso obténs, mais te pedem que faças sempre o mesmo. Quanto mais te ligas a pessoas de sucesso, mais acabas por ficar um pouco à margem, de certa forma, mas já não antecipas as coisas nem te interessas. Porque é que algumas pessoas mantêm a sua curiosidade e a sua paixão? Há alguma forma de estruturar isso?
David Bowie: Sim, tal como dizes, é difícil não evitar o envolvimento com um grupo de pessoas da mesma área e na mesma posição que nós. Fiz um enorme esforço para me afastar do circo do rock’n’roll. A verdade é que, de há uns cinco anos para cá, não tenho lidado socialmente muito com gente do rock. Voltei para a Europa, fui para Berlim durante três anos, vivi em Berlim, o que, para mim, foi terapêutico. Na altura, precisava disso porque me tinha deixado perder demasiadamente no casulo de Los Angeles.
Susan Sarandon: Também és um pai responsável que cria o seu filho. Isso mudou a tua…
David Bowie: Muda muita coisa. Acho que quando somos novos e determinados a atingir o grande sonho do “tenho uma declaração importante e o mundo tem que a ouvir” e tudo isso, há algo de muito irresponsável na nossa atitude face ao futuro, um não-reconhecimento de que o futuro existe. Acho que é muito importante que assim seja. Acho que é a raiva e a excitação e o entusiasmo do momento, um ponto de partida cru para qualquer um na forma como irá encarar a vida. Mas, lentamente, a mudança surge e um filho trá-la com um novo ponto de vista. Para mim, o meu filho não deixa de me fazer lembrar… Lembro-me sempre de que há um amanhã. Quando o facto de haver um amanhã nunca me ocorria anteriormente. Amanhã? Era mesmo… É isto, o agora, o que é importante, tudo o resto é louco e estático e não significa nada ou tudo é impermanente, logo vou viver para o momento.
Susan Sarandon: Então, preocupa-te o mundo que ele vai herdar?
David Bowie: Sim. Claro, naturalmente, é isso que acontece aos pais. E é preciso começar a assumir posições muito positivas desde que se disponha da informação necessária.
Susan Sarandon: Achas que é possível?
David Bowie: Sim, claro que é. É tão fácil dizer que sim a algo como dizer que sim a ser-se positivo. É muito mais fácil, penso, ser-se niilista e negativo. É sempre um ponto de partida mais fácil.
Susan Sarandon: Não tem sequência, pelo que podes relaxar e ver as coisas acontecer e não tomar parte nelas, é sempre fácil.
David Bowie: E acaba por acontecer. É um processo de acumulação, quanto mais escrevermos sobre o que é negativo, mais aumentamos o valor de mercado da negatividade. E se decidirmos escrever de forma positiva, estaremos a contribuir para o que restar de positivo na vida. Portanto, tem que haver mais gente a tomar a decisão de ser mais positiva relativamente aos aspetos mais positivos da vida.
Susan Sarandon: Gostas de ser famoso?
David Bowie: Sempre me interessou, o aspeto de se implorar atenção quando se começa e então, quando se recebe essa atenção, já não é uma coisa que se queira. (risos) Faz-se o possível para evitar entrevistas e para evitar ser-se fotografado, mas há uma altura na vida em que se dá o braço direito para se ser fotografado e para que nos perguntem a nossa opinião… Portanto, acho isso cansativo.
Susan Sarandon: Mas consegues um lugar no restaurante, isso parece-me fixe.
David Bowie: Sim. Sim, sim… Acho que, para mim, foi importante que me pedissem a opinião e me fotografassem porque, enquanto artista, isso levaria a que me escutassem. Agora que me encontro numa posição em que posso apresentar o meu trabalho e saber que vai ser recebido, não acho que o resto seja necessário. Mas, infelizmente, a vida não é assim.
Susan Sarandon: Mas também ganhas acesso em primeira mão às pessoas e a coisas que poderias não ter. Acho isso agradável.
David Bowie: Sim, acho que se pode ser suficientemente despreocupado para não considerar isso como um fardo.
Susan Sarandon: Pareces muito mais despreocupado do que antes…
David Bowie: Sim.
Susan Sarandon: Então, sentes-te mais feliz?
David Bowie: Sim, sinceramente, muito feliz.
Susan Sarandon: Então, não tenhas esse ar triste! (risos)
David Bowie: Acho que esta é uma questão séria! (sorri)
Susan Sarandon: É verdade. É verdade, não devíamos insistir nisso.
David Bowie: Nunca te vi infeliz!
Susan Sarandon: Sou uma pessoa muito mais superficial! (risos) Não, é verdade. Esforço-me muito para ser feliz.
David Bowie: É mesmo assim? Meu Deus!
Susan Sarandon: Basicamente, sou bastante feliz. Não necessariamente satisfeita. Não sei… À medida que envelheço, cada vez sei menos. Mas é bom poder estar em baixo porque se nunca estivermos em baixo, não podemos estar por cima. Eu penso sempre: “Isto está tão mau que não pode piorar!” Quer dizer que sair da depressão seria divertido!
David Bowie: Podes dar por concluído este diálogo e entusiasmares-te com ele? (risos)
Susan Sarandon: Não sei…
David Bowie: Bom, obrigado por nos teres cedido uma parte do teu tempo de estudos na universidade…
Susan Sarandon: Obrigada por me teres convidado.
David Bowie: Ficamos à espera da tua tese e… (risos)
Susan Sarandon: E toda a sorte do mundo para ti… (riem em conjunto)
David Bowie: Porquê? Andei todos os anos em tournée desde que era um teenager até ’76 e, francamente, estava farto, já não me dava prazer, acho, arrastar-me pelo mundo fora, andar de hotel em hotel não é divertido, nem nos melhores momentos. E, até certo ponto, trata-se de vegetar. De tal modo que não passa de andar às voltas, fazer as malas e entrar e sair. E ficamos expectantes pelo espetáculo da noite, mas quando o espetáculo já não entusiasma muito porque o fizemos uma e outra vez e ainda outra vez, temos que nos interrogar “para quê chatear-me? Será que vale mesmo a pena?”. Então, parei durante uns bons cinco, seis anos. E, para já, esta vai ser a minha primeira tournée.
Susan Sarandon: E porque é que te sentes pronto para isso?
David Bowie: Porque agora estou entusiasmado com a ideia de atuar.
Susan Sarandon: Como é que consegues manter… um sucesso enorme da forma como o vejo, mesmo entre gente da minha área?
David Bowie: Sim.
Susan Sarandon: Quanto mais sucesso obténs, mais te pedem que faças sempre o mesmo. Quanto mais te ligas a pessoas de sucesso, mais acabas por ficar um pouco à margem, de certa forma, mas já não antecipas as coisas nem te interessas. Porque é que algumas pessoas mantêm a sua curiosidade e a sua paixão? Há alguma forma de estruturar isso?
David Bowie: Sim, tal como dizes, é difícil não evitar o envolvimento com um grupo de pessoas da mesma área e na mesma posição que nós. Fiz um enorme esforço para me afastar do circo do rock’n’roll. A verdade é que, de há uns cinco anos para cá, não tenho lidado socialmente muito com gente do rock. Voltei para a Europa, fui para Berlim durante três anos, vivi em Berlim, o que, para mim, foi terapêutico. Na altura, precisava disso porque me tinha deixado perder demasiadamente no casulo de Los Angeles.
Susan Sarandon: Também és um pai responsável que cria o seu filho. Isso mudou a tua…
David Bowie: Muda muita coisa. Acho que quando somos novos e determinados a atingir o grande sonho do “tenho uma declaração importante e o mundo tem que a ouvir” e tudo isso, há algo de muito irresponsável na nossa atitude face ao futuro, um não-reconhecimento de que o futuro existe. Acho que é muito importante que assim seja. Acho que é a raiva e a excitação e o entusiasmo do momento, um ponto de partida cru para qualquer um na forma como irá encarar a vida. Mas, lentamente, a mudança surge e um filho trá-la com um novo ponto de vista. Para mim, o meu filho não deixa de me fazer lembrar… Lembro-me sempre de que há um amanhã. Quando o facto de haver um amanhã nunca me ocorria anteriormente. Amanhã? Era mesmo… É isto, o agora, o que é importante, tudo o resto é louco e estático e não significa nada ou tudo é impermanente, logo vou viver para o momento.
Susan Sarandon: Então, preocupa-te o mundo que ele vai herdar?
David Bowie: Sim. Claro, naturalmente, é isso que acontece aos pais. E é preciso começar a assumir posições muito positivas desde que se disponha da informação necessária.
Susan Sarandon: Achas que é possível?
David Bowie: Sim, claro que é. É tão fácil dizer que sim a algo como dizer que sim a ser-se positivo. É muito mais fácil, penso, ser-se niilista e negativo. É sempre um ponto de partida mais fácil.
Susan Sarandon: Não tem sequência, pelo que podes relaxar e ver as coisas acontecer e não tomar parte nelas, é sempre fácil.
David Bowie: E acaba por acontecer. É um processo de acumulação, quanto mais escrevermos sobre o que é negativo, mais aumentamos o valor de mercado da negatividade. E se decidirmos escrever de forma positiva, estaremos a contribuir para o que restar de positivo na vida. Portanto, tem que haver mais gente a tomar a decisão de ser mais positiva relativamente aos aspetos mais positivos da vida.
Susan Sarandon: Gostas de ser famoso?
David Bowie: Sempre me interessou, o aspeto de se implorar atenção quando se começa e então, quando se recebe essa atenção, já não é uma coisa que se queira. (risos) Faz-se o possível para evitar entrevistas e para evitar ser-se fotografado, mas há uma altura na vida em que se dá o braço direito para se ser fotografado e para que nos perguntem a nossa opinião… Portanto, acho isso cansativo.
Susan Sarandon: Mas consegues um lugar no restaurante, isso parece-me fixe.
David Bowie: Sim. Sim, sim… Acho que, para mim, foi importante que me pedissem a opinião e me fotografassem porque, enquanto artista, isso levaria a que me escutassem. Agora que me encontro numa posição em que posso apresentar o meu trabalho e saber que vai ser recebido, não acho que o resto seja necessário. Mas, infelizmente, a vida não é assim.
Susan Sarandon: Mas também ganhas acesso em primeira mão às pessoas e a coisas que poderias não ter. Acho isso agradável.
David Bowie: Sim, acho que se pode ser suficientemente despreocupado para não considerar isso como um fardo.
Susan Sarandon: Pareces muito mais despreocupado do que antes…
David Bowie: Sim.
Susan Sarandon: Então, sentes-te mais feliz?
David Bowie: Sim, sinceramente, muito feliz.
Susan Sarandon: Então, não tenhas esse ar triste! (risos)
David Bowie: Acho que esta é uma questão séria! (sorri)
Susan Sarandon: É verdade. É verdade, não devíamos insistir nisso.
David Bowie: Nunca te vi infeliz!
Susan Sarandon: Sou uma pessoa muito mais superficial! (risos) Não, é verdade. Esforço-me muito para ser feliz.
David Bowie: É mesmo assim? Meu Deus!
Susan Sarandon: Basicamente, sou bastante feliz. Não necessariamente satisfeita. Não sei… À medida que envelheço, cada vez sei menos. Mas é bom poder estar em baixo porque se nunca estivermos em baixo, não podemos estar por cima. Eu penso sempre: “Isto está tão mau que não pode piorar!” Quer dizer que sair da depressão seria divertido!
David Bowie: Podes dar por concluído este diálogo e entusiasmares-te com ele? (risos)
Susan Sarandon: Não sei…
David Bowie: Bom, obrigado por nos teres cedido uma parte do teu tempo de estudos na universidade…
Susan Sarandon: Obrigada por me teres convidado.
David Bowie: Ficamos à espera da tua tese e… (risos)
Susan Sarandon: E toda a sorte do mundo para ti… (riem em conjunto)