1983: Especial UK TV News, com Tom Brook, em 27 de janeiro
Locutor: Boa noite. Temos hoje, para difusão nacional, uma entrevista exclusiva com uma das personalidades mais extraordinárias do mundo do rock: David Bowie. Fala connosco, em Nova Iorque, sobre a sua carreira e o seu regresso próximo à Grã-Bretanha.
Locutora: A superestrela do rock cuja marca distintiva costuma ser a de manter uma estranha distância, algo mesmo do outro mundo, David Bowie. Já passaram sete anos desde a última tournée de Bowie e mais de dois anos desde o seu último álbum. Mas ontem, em Nova Iorque, ele anunciou não só um novo contrato discográfico como também planos para uma nova tournée mundial em finais do ano, a qual incluirá a Grã-Bretanha. É possível que David Bowie seja um dos mais bizarros cantores pop que a Grã-Bretanha alguma vez produziu. Saltou para o estrelato com o single Space Oddity sobre o Major Tom, um astronauta que decidiu permanecer no espaço. Bowie sempre assumiu o papel de personagens estranhas ou alienígenas, coloriu o cabelo de cor de laranja vivo e pintou a cara. Há quem afirme que foi o primeiro punk. O seu último álbum, Scary Monsters, produziu dois hits com Bowie a representar mais uma personagem estranha.
(passa um pouco do vídeo de Ashes to Ashes)
Mais recentemente, David Bowie empenhou-se numa carreira de ator, quer no palco, quer no ecrã, mas deixou os seus fãs com a sensação de que a sua música tem sido bastante negligenciada. Tom Brook falou com Bowie em Nova Iorque.
Tom Brook (introdução): No passado, David Bowie não se mostrou particularmente à vontade com a imprensa, mas ontem apareceu feliz e relaxado diante dos jornalistas nova-iorquinos. Com ele estava um representante da sua nova companhia discográfica (EMI, em substituição da RCA). Depois da conferência de imprensa, falámos com ele sobre a próxima tournée mundial.
Tom Brook: (falando, agora, com David Bowie): Vais realizar muitos concertos na Grã-Bretanha?
David Bowie: Sim, bastantes. Gostaria de te poder dizer exatamente quando, durante a próxima quinzena vamos decidir quais as áreas do mundo onde estaremos e quando. Mas, sem dúvida, Inglaterra e de forma bastante alargada, sim.
Tom Brook: Já passaram sete anos desde a tua última tournée. O que te fez decidir a sair de novo para a estrada?
David Bowie: Bom, dito de outro modo, a razão que me levou a deixar de tocar ao vivo foi que já não estava a gostar de o fazer. E precisei destes sete anos para desenvolver de novo o tipo de entusiasmo que leva alguém a querer sair e apresentar-se ao vivo e tocar guitarra e tudo o mais. (risos)
Tom Brook: Nesse caso, o que te entusiasmou de novo?
David Bowie: Acho que, de repente, me ocorreu que há muitos álbuns que nunca apresentei em palco pelo facto de me ter mantido ausente e pareceu-me estimulante subir aos palcos novamente, tocar coisas que nunca toquei, acrescidas do novo álbum que é o máximo. (risos)
Tom Brook: As tuas apresentações ao vivo sempre foram visualmente muito estimulantes. Tens algo de especial na manga para esta nova tournée?
David Bowie: Bom, vou tentar algo, sim. (risos)
Tom Brook: Podes dar-nos alguma ideia disso?
David Bowie: Não! (risos)
Tom Brook: Acabaste de anunciar um novo álbum (Let’s Dance) que sairá daqui a algum tempo. Como é que vai soar?
David Bowie: Tentei produzir algo mais quente e humanista do que o que quer que seja que tenha feito desde há muito. Com menor ênfase nas declarações de tipo niilista e no género de coisas unidimensionais em que tenho trabalhado nos anos mais recentes.
Tom Brook: Vamos avançar e falar um pouco acerca do teu trabalho enquanto ator. Uma coisa em que reparei foi que pareces desempenhar sempre o papel de aberrações humanas. O Homem Elefante (The Elephant Man), O Homem que Veio do Espaço (The Man Who Fell to Earth)… Há alguma razão para o fazeres?
David Bowie: (risos) “Porque é que faz isto, senhor Bowie?” (dito de modo brincalhão e inquisitivo) Não sei nada disso de aberrações… A última coisa que fiz é apenas um homem preocupado, que acho que é o papel mais caloroso que já representei. Acho que o resto surgiu porque uma enorme parte dos scripts que me ofereceram, como poderás imaginar, consistia em homens verdes do espaço que tocavam guitarra e, desses, os melhores eram os que apresentavam personagens pelo menos muito interessantes, mesmo incomuns. Portanto, aproveitei-os e aceitei esses papéis pelo facto de, pelo menos, terem esse interesse inerente. Mas é o tipo de realizadores… Regra geral, escolhi os filmes pelos realizadores e os papéis ficaram no segundo plano. E os realizadores interessantes que escolhi tinham sempre personagens excêntricas para me oferecer.
Tom Brook: Sei que viajas muito pelo mundo. Moras na Suíça, passas muito tempo aqui, em Nova Iorque, assim como em Berlim. Mas onde fica, para ti, o lar?
David Bowie: Estou sempre a ter que falar nisso… Não estou, não me ocorre que tenha um lar propriamente dito. No último ano, tenho viajado constantemente da América para Rarotonga, no Pacífico Sul, e depois para o Japão e, de seguida, pela Europa e de volta à América. E, à medida que cada ano se transforma nisso, fica muito difícil fixar-me em algum lugar. Acho que, quando finalmente decidir que quero um lar, tratarei disso, de decidir onde devo estar… Mas sinto-me perfeitamente satisfeito com as viagens.
Tom Brook: Diz-me: há alguma hipótese de alguma vez regressares e viveres no local onde nasceste, em Brixton, no sul de Londres?
David Bowie: Hmm… Porquê?
Tom Brook: O sítio de onde vens é, para ti, importante?
David Bowie: Sim. Mas a partir do momento em que sais de casa, acho que é… Não me ocorre de todo viver, regressar, quando falas em viver queres dizer passar lá o resto da vida… Não me ocorre viver em sítio nenhum para o resto da vida.
Locutora: A superestrela do rock cuja marca distintiva costuma ser a de manter uma estranha distância, algo mesmo do outro mundo, David Bowie. Já passaram sete anos desde a última tournée de Bowie e mais de dois anos desde o seu último álbum. Mas ontem, em Nova Iorque, ele anunciou não só um novo contrato discográfico como também planos para uma nova tournée mundial em finais do ano, a qual incluirá a Grã-Bretanha. É possível que David Bowie seja um dos mais bizarros cantores pop que a Grã-Bretanha alguma vez produziu. Saltou para o estrelato com o single Space Oddity sobre o Major Tom, um astronauta que decidiu permanecer no espaço. Bowie sempre assumiu o papel de personagens estranhas ou alienígenas, coloriu o cabelo de cor de laranja vivo e pintou a cara. Há quem afirme que foi o primeiro punk. O seu último álbum, Scary Monsters, produziu dois hits com Bowie a representar mais uma personagem estranha.
(passa um pouco do vídeo de Ashes to Ashes)
Mais recentemente, David Bowie empenhou-se numa carreira de ator, quer no palco, quer no ecrã, mas deixou os seus fãs com a sensação de que a sua música tem sido bastante negligenciada. Tom Brook falou com Bowie em Nova Iorque.
Tom Brook (introdução): No passado, David Bowie não se mostrou particularmente à vontade com a imprensa, mas ontem apareceu feliz e relaxado diante dos jornalistas nova-iorquinos. Com ele estava um representante da sua nova companhia discográfica (EMI, em substituição da RCA). Depois da conferência de imprensa, falámos com ele sobre a próxima tournée mundial.
Tom Brook: (falando, agora, com David Bowie): Vais realizar muitos concertos na Grã-Bretanha?
David Bowie: Sim, bastantes. Gostaria de te poder dizer exatamente quando, durante a próxima quinzena vamos decidir quais as áreas do mundo onde estaremos e quando. Mas, sem dúvida, Inglaterra e de forma bastante alargada, sim.
Tom Brook: Já passaram sete anos desde a tua última tournée. O que te fez decidir a sair de novo para a estrada?
David Bowie: Bom, dito de outro modo, a razão que me levou a deixar de tocar ao vivo foi que já não estava a gostar de o fazer. E precisei destes sete anos para desenvolver de novo o tipo de entusiasmo que leva alguém a querer sair e apresentar-se ao vivo e tocar guitarra e tudo o mais. (risos)
Tom Brook: Nesse caso, o que te entusiasmou de novo?
David Bowie: Acho que, de repente, me ocorreu que há muitos álbuns que nunca apresentei em palco pelo facto de me ter mantido ausente e pareceu-me estimulante subir aos palcos novamente, tocar coisas que nunca toquei, acrescidas do novo álbum que é o máximo. (risos)
Tom Brook: As tuas apresentações ao vivo sempre foram visualmente muito estimulantes. Tens algo de especial na manga para esta nova tournée?
David Bowie: Bom, vou tentar algo, sim. (risos)
Tom Brook: Podes dar-nos alguma ideia disso?
David Bowie: Não! (risos)
Tom Brook: Acabaste de anunciar um novo álbum (Let’s Dance) que sairá daqui a algum tempo. Como é que vai soar?
David Bowie: Tentei produzir algo mais quente e humanista do que o que quer que seja que tenha feito desde há muito. Com menor ênfase nas declarações de tipo niilista e no género de coisas unidimensionais em que tenho trabalhado nos anos mais recentes.
Tom Brook: Vamos avançar e falar um pouco acerca do teu trabalho enquanto ator. Uma coisa em que reparei foi que pareces desempenhar sempre o papel de aberrações humanas. O Homem Elefante (The Elephant Man), O Homem que Veio do Espaço (The Man Who Fell to Earth)… Há alguma razão para o fazeres?
David Bowie: (risos) “Porque é que faz isto, senhor Bowie?” (dito de modo brincalhão e inquisitivo) Não sei nada disso de aberrações… A última coisa que fiz é apenas um homem preocupado, que acho que é o papel mais caloroso que já representei. Acho que o resto surgiu porque uma enorme parte dos scripts que me ofereceram, como poderás imaginar, consistia em homens verdes do espaço que tocavam guitarra e, desses, os melhores eram os que apresentavam personagens pelo menos muito interessantes, mesmo incomuns. Portanto, aproveitei-os e aceitei esses papéis pelo facto de, pelo menos, terem esse interesse inerente. Mas é o tipo de realizadores… Regra geral, escolhi os filmes pelos realizadores e os papéis ficaram no segundo plano. E os realizadores interessantes que escolhi tinham sempre personagens excêntricas para me oferecer.
Tom Brook: Sei que viajas muito pelo mundo. Moras na Suíça, passas muito tempo aqui, em Nova Iorque, assim como em Berlim. Mas onde fica, para ti, o lar?
David Bowie: Estou sempre a ter que falar nisso… Não estou, não me ocorre que tenha um lar propriamente dito. No último ano, tenho viajado constantemente da América para Rarotonga, no Pacífico Sul, e depois para o Japão e, de seguida, pela Europa e de volta à América. E, à medida que cada ano se transforma nisso, fica muito difícil fixar-me em algum lugar. Acho que, quando finalmente decidir que quero um lar, tratarei disso, de decidir onde devo estar… Mas sinto-me perfeitamente satisfeito com as viagens.
Tom Brook: Diz-me: há alguma hipótese de alguma vez regressares e viveres no local onde nasceste, em Brixton, no sul de Londres?
David Bowie: Hmm… Porquê?
Tom Brook: O sítio de onde vens é, para ti, importante?
David Bowie: Sim. Mas a partir do momento em que sais de casa, acho que é… Não me ocorre de todo viver, regressar, quando falas em viver queres dizer passar lá o resto da vida… Não me ocorre viver em sítio nenhum para o resto da vida.