1983: Entrevista à MTV em que Bowie critica a estação por não passar artistas negros
David Bowie: Gostaria de ter perguntar algo, a sério…
MTV: Está bem.
David Bowie: Ocorreu-me, depois de ter visto a MTV durante os últimos meses, que se trata de uma empresa sólida, tem muito a seu favor. Só me sinto um pouco desconcertado pelo facto de passar tão poucos artistas negros. Porquê?
MTV: Penso que estamos a tentar seguir nessa direção. Queremos passar artistas que pareçam estar a fazer música que se ajuste àquilo que queremos passar na MTV, ligamo-nos a empresas que pensem em termos de públicos especializados.
David Bowie: Evidentemente. É evidente até pelo facto de que os únicos artistas negros que se veem passam entre as duas e meia da manhã até cerca das seis. São muito poucos os que passam predominantemente durante o dia.
MTV: Não, isso é…
David Bowie: Devo dizer que nas últimas duas semanas as coisas têm vindo a mudar, mas é um processo lento.
MTV: Eu sei, hmm, é curioso… Acho que as pessoas têm diferentes perceções. Quando acabam a ver, digamos, uma ou duas horas, mesmo três diariamente, as pessoas ficam com diferentes ideias sobre o que estamos a fazer. Não temos nenhum tipo de separações relativamente a nada, muito menos artistas negros. Eles separam-nos do que se pode considerar o prime time… Não temos isso.
David Bowie: Porque vê-se muito, nesta estação televisiva negra que costumo selecionar, não tenho a certeza do nome da estação, mas parece haver muitos artistas negros que fazem vídeos muito bons e fico surpreendido por não passarem na MTV.
MTV: Bom, claro que também temos que tentar passar aquilo que pensamos que não só Nova Iorque e Los Angeles irão apreciar mas também Poughkeepsie ou o Midwest, alguma cidadezinha no Midwest que vai ficar aterrorizada com o Prince, que passamos, ou um conjunto de outras caras negras.
David Bowie: (sorri) Isso é muito interessante. Não é interessante?
MTV: Temos que passar a música que achamos que todo o país vai apreciar e claro que somos uma estação de rock’n’roll. Agora, poder-se-ia perguntar, bom, deveria hmm… já que estamos em Nova Iorque, será que a PLJ deveria passar, por exemplo, os Isley Brothers? Bom, nós poderíamos dizer que sim, já que crescemos numa época em que os Isley Brothers têm algum significado para mim, assim como os Spinners, depois dos Isley Brothers. Mas que significado têm para alguém com 17 anos? Bom, se falares ao telefone com esses tipos, como eu fiz quando estava na rádio…
David Bowie: Bom, eu digo-te o que significa, os Isley Brothers ou Marvin Gaye, para alguém com 17 anos, significam…
MTV: Ah!
David Bowie: E certamente que alguém com 17 anos também faz parte da América…
MTV: Sem dúvida, sem dúvida. Por isso é que nos podes ver.
David Bowie: Não achas que essa é uma situação assustadora?
MTV: Sim, mas menos aqui do que na rádio.
David Bowie: E não achas que deveria ser uma convicção da estação e de outras estações de rádio? Parece ser uma coisa desenfreada nos media Americanos. Tentar tornar os media mais integradores em termos musicais não deveria constituir um desafio?
MTV: Claro. Acho que está a acontecer. Porque a música branca e os músicos brancos estão a começar a tocar, mais do que nunca, mais do que o fizeram recentemente, digamos, nos últimos dez anos, a cena dos artistas negros. E agora espera-se que as linhas se comecem a diluir e quando passamos uma banda como os ABC, bom, esses miúdos brancos e negros gostam e, de repente, bom, torna-se um pouco mais fácil um miúdo branco compreendê-lo. A verdade, muito francamente, é que te poderia indicar uma carta na nova edição da Record em resposta a um artigo do Dave Marsh, em que um miúdo protestava contra o que não queria ver na MTV. Mas o que eu quero dizer é que de certeza que há muitos miúdos brancos e negros que podem querer ver música negra. Há montes deles que estão, hmm… não é como em 1967 quando diriam: “Sim, não curto isso, mas tu é que sabes de ti”. Agora é: “Curtes isso? Não gosto de ti!”. E isso mete medo e não nos podemos virar e dizer: “Olha, assim é que está bem!”. Só podemos ensinar… um bocadinho de cada vez.
David Bowie: Interessante. Ok, muito obrigado.
MTV: O que eu disse faz sentido? Achas que é válido?
David Bowie: Compreendo o teu ponto de vista. (risos)
MTV: Está bem.
David Bowie: Ocorreu-me, depois de ter visto a MTV durante os últimos meses, que se trata de uma empresa sólida, tem muito a seu favor. Só me sinto um pouco desconcertado pelo facto de passar tão poucos artistas negros. Porquê?
MTV: Penso que estamos a tentar seguir nessa direção. Queremos passar artistas que pareçam estar a fazer música que se ajuste àquilo que queremos passar na MTV, ligamo-nos a empresas que pensem em termos de públicos especializados.
David Bowie: Evidentemente. É evidente até pelo facto de que os únicos artistas negros que se veem passam entre as duas e meia da manhã até cerca das seis. São muito poucos os que passam predominantemente durante o dia.
MTV: Não, isso é…
David Bowie: Devo dizer que nas últimas duas semanas as coisas têm vindo a mudar, mas é um processo lento.
MTV: Eu sei, hmm, é curioso… Acho que as pessoas têm diferentes perceções. Quando acabam a ver, digamos, uma ou duas horas, mesmo três diariamente, as pessoas ficam com diferentes ideias sobre o que estamos a fazer. Não temos nenhum tipo de separações relativamente a nada, muito menos artistas negros. Eles separam-nos do que se pode considerar o prime time… Não temos isso.
David Bowie: Porque vê-se muito, nesta estação televisiva negra que costumo selecionar, não tenho a certeza do nome da estação, mas parece haver muitos artistas negros que fazem vídeos muito bons e fico surpreendido por não passarem na MTV.
MTV: Bom, claro que também temos que tentar passar aquilo que pensamos que não só Nova Iorque e Los Angeles irão apreciar mas também Poughkeepsie ou o Midwest, alguma cidadezinha no Midwest que vai ficar aterrorizada com o Prince, que passamos, ou um conjunto de outras caras negras.
David Bowie: (sorri) Isso é muito interessante. Não é interessante?
MTV: Temos que passar a música que achamos que todo o país vai apreciar e claro que somos uma estação de rock’n’roll. Agora, poder-se-ia perguntar, bom, deveria hmm… já que estamos em Nova Iorque, será que a PLJ deveria passar, por exemplo, os Isley Brothers? Bom, nós poderíamos dizer que sim, já que crescemos numa época em que os Isley Brothers têm algum significado para mim, assim como os Spinners, depois dos Isley Brothers. Mas que significado têm para alguém com 17 anos? Bom, se falares ao telefone com esses tipos, como eu fiz quando estava na rádio…
David Bowie: Bom, eu digo-te o que significa, os Isley Brothers ou Marvin Gaye, para alguém com 17 anos, significam…
MTV: Ah!
David Bowie: E certamente que alguém com 17 anos também faz parte da América…
MTV: Sem dúvida, sem dúvida. Por isso é que nos podes ver.
David Bowie: Não achas que essa é uma situação assustadora?
MTV: Sim, mas menos aqui do que na rádio.
David Bowie: E não achas que deveria ser uma convicção da estação e de outras estações de rádio? Parece ser uma coisa desenfreada nos media Americanos. Tentar tornar os media mais integradores em termos musicais não deveria constituir um desafio?
MTV: Claro. Acho que está a acontecer. Porque a música branca e os músicos brancos estão a começar a tocar, mais do que nunca, mais do que o fizeram recentemente, digamos, nos últimos dez anos, a cena dos artistas negros. E agora espera-se que as linhas se comecem a diluir e quando passamos uma banda como os ABC, bom, esses miúdos brancos e negros gostam e, de repente, bom, torna-se um pouco mais fácil um miúdo branco compreendê-lo. A verdade, muito francamente, é que te poderia indicar uma carta na nova edição da Record em resposta a um artigo do Dave Marsh, em que um miúdo protestava contra o que não queria ver na MTV. Mas o que eu quero dizer é que de certeza que há muitos miúdos brancos e negros que podem querer ver música negra. Há montes deles que estão, hmm… não é como em 1967 quando diriam: “Sim, não curto isso, mas tu é que sabes de ti”. Agora é: “Curtes isso? Não gosto de ti!”. E isso mete medo e não nos podemos virar e dizer: “Olha, assim é que está bem!”. Só podemos ensinar… um bocadinho de cada vez.
David Bowie: Interessante. Ok, muito obrigado.
MTV: O que eu disse faz sentido? Achas que é válido?
David Bowie: Compreendo o teu ponto de vista. (risos)