1995: Outside e o vídeo de Heart’s Filthy Lesson, fonte desconhecida
David Bowie: A ideia de que há absolutos, uma igreja absoluta, um sistema artístico absoluto, uma política absoluta, parece não fazer qualquer sentido neste momento. À medida que vamos descobrindo as camadas da nossa realidade e que percebemos que, na verdade, o caos é uma imagem muito mais exata do que somos e da forma como vivemos do que todas essas ideias definidas do que é certo e do que é errado, as coisas parecem tão… inviáveis e algo que não descreve realmente a nossa situação… Assim, isso realmente coloca o artista noutro lugar.
Este poderia ser o primeiro de uma série de álbuns e, muito claramente, um enredo e uma narrativa que, é esse o tema, teria por intenção capturar o espírito de cada ano enquanto passa, durante os próximos cinco anos. Assim, no ano 2000 teremos virtualmente criado um diário musical e textual dos últimos cinco anos. Portanto, o milénio… O que é um tipo de ambição pomposo mas que acho que vale a pena, pelo menos, tentar completar.
O meu improviso foi muito variado. Estendeu-se do neopaganismo a sentimentos sobre a arte ritual e do corpo e a extrapolação de tudo isso.
Entrevistador: O que é que te fascina nisso, um artista com essas intenções?
David Bowie: Não tenho muita certeza de que isso me fascine assim tanto, já que o vejo mais como uma corrente artística e é esse o aspeto que me interessa. E a minha visão pessoal é a de que entramos nesta fase final do milénio e há praticamente uma… porque é possível que a ética judaico-cristã não englobe os sentimentos e medos ligados ao sexo e à violência. E tudo acaba na área da cultura popular para que se assimilem esses medos e essas condições.
Em Heart’s Filthy Lesson, creio, talvez o meu contributo tenha a ver com o facto de que, à medida que envelhecemos, passamos a sentir-nos ou confortáveis ou aterrorizados face à noção de que há um fim físico da vida, que se morre. Acho que temos grandes problemas relativamente à morte, à violência e ao sexo. Três coisas. E penso que a arte ritual é, de algum modo, criada a partir de uma vaga recordação do paganismo antes da ética judaico-cristã e é uma espécie de sangria, quase… algo que me faz pensar em aplacar os deuses, que se derramarmos sangue e aplacarmos os deuses talvez entremos no novo milénio sem problemas. (risos)
A minha intenção não passa do processo e da criação da peça. Qualquer interpretação que alguém possa, enquanto elemento do público ou ouvinte, inferir da obra é da sua inteira responsabilidade. A minha responsabilidade termina a partir do momento em que crio algo.
Entrevistador: E quanto a pegar nessas imagens e ideias que nunca se destinaram a um público mainstream, nunca procuraram um público mainstream, e retocá-las e usá-las como uma forma de as arremessar a esse público, há riscos nisso?
David Bowie: Acho muito mais arriscado mantermo-nos dentro dos parâmetros de um mundo que nos é familiar porque nos arriscamos a tornarmo-nos menos humanos, menos inquisitivos, menos curiosos, menos ardentes e emocionalmente envolvidos com a vida já que, quando trabalhamos em áreas relativamente às quais temos certezas, sabemos que não vai haver nenhum tipo de… acidentes interessantes. Esse tipo de complacência coloca-nos antolhos e não olhamos para o que se passa no exterior porque isso questionaria aquilo que fazemos enquanto artistas. Se formos livres e tivermos um sentido de aventura relativamente ao que fazemos, estaremos abertos a tudo na vida. Acho… (sorri)
Entrevistador: Posicionamo-nos no exterior (outside).
David Bowie: Posicionamo-nos no exterior. (risos)
Este poderia ser o primeiro de uma série de álbuns e, muito claramente, um enredo e uma narrativa que, é esse o tema, teria por intenção capturar o espírito de cada ano enquanto passa, durante os próximos cinco anos. Assim, no ano 2000 teremos virtualmente criado um diário musical e textual dos últimos cinco anos. Portanto, o milénio… O que é um tipo de ambição pomposo mas que acho que vale a pena, pelo menos, tentar completar.
O meu improviso foi muito variado. Estendeu-se do neopaganismo a sentimentos sobre a arte ritual e do corpo e a extrapolação de tudo isso.
Entrevistador: O que é que te fascina nisso, um artista com essas intenções?
David Bowie: Não tenho muita certeza de que isso me fascine assim tanto, já que o vejo mais como uma corrente artística e é esse o aspeto que me interessa. E a minha visão pessoal é a de que entramos nesta fase final do milénio e há praticamente uma… porque é possível que a ética judaico-cristã não englobe os sentimentos e medos ligados ao sexo e à violência. E tudo acaba na área da cultura popular para que se assimilem esses medos e essas condições.
Em Heart’s Filthy Lesson, creio, talvez o meu contributo tenha a ver com o facto de que, à medida que envelhecemos, passamos a sentir-nos ou confortáveis ou aterrorizados face à noção de que há um fim físico da vida, que se morre. Acho que temos grandes problemas relativamente à morte, à violência e ao sexo. Três coisas. E penso que a arte ritual é, de algum modo, criada a partir de uma vaga recordação do paganismo antes da ética judaico-cristã e é uma espécie de sangria, quase… algo que me faz pensar em aplacar os deuses, que se derramarmos sangue e aplacarmos os deuses talvez entremos no novo milénio sem problemas. (risos)
A minha intenção não passa do processo e da criação da peça. Qualquer interpretação que alguém possa, enquanto elemento do público ou ouvinte, inferir da obra é da sua inteira responsabilidade. A minha responsabilidade termina a partir do momento em que crio algo.
Entrevistador: E quanto a pegar nessas imagens e ideias que nunca se destinaram a um público mainstream, nunca procuraram um público mainstream, e retocá-las e usá-las como uma forma de as arremessar a esse público, há riscos nisso?
David Bowie: Acho muito mais arriscado mantermo-nos dentro dos parâmetros de um mundo que nos é familiar porque nos arriscamos a tornarmo-nos menos humanos, menos inquisitivos, menos curiosos, menos ardentes e emocionalmente envolvidos com a vida já que, quando trabalhamos em áreas relativamente às quais temos certezas, sabemos que não vai haver nenhum tipo de… acidentes interessantes. Esse tipo de complacência coloca-nos antolhos e não olhamos para o que se passa no exterior porque isso questionaria aquilo que fazemos enquanto artistas. Se formos livres e tivermos um sentido de aventura relativamente ao que fazemos, estaremos abertos a tudo na vida. Acho… (sorri)
Entrevistador: Posicionamo-nos no exterior (outside).
David Bowie: Posicionamo-nos no exterior. (risos)