Introdução
A primeira vez em que realmente prestei atenção a David Bowie, ainda que ele tivesse estado presente em posters e mini-posters, sobretudo dos seus tempos de Ziggy Stardust e pós-Ziggy Stardust, foi no final dos anos setenta.
Era o tempo em que podíamos entrar numa loja de discos, colocar auscultadores e escutar antes de comprarmos o que quer que fosse. E assim fiz. Entre os discos que selecionei estava Heroes, com a sua enigmática capa a preto e branco. Mal os primeiros sons me chegaram, fascinou-me a combinação da imagem da capa e dos sons algo sombrios mas, ainda assim, claramente sentidos, que se me apresentavam, já que se tratava precisamente do que aquele tempo (uma conjugação de super bandas de rock e disco - que os setores mais conservadores insistiam em afirmar viera para pôr cobro ao rock’n’roll -, além de bandas punk e reggae nos seus primeiros passos), precisava. E senti-me um son of the silent age, o que quer que tal pudesse significar. Heroes foi o meu primeiro disco de David Bowie e, até hoje, continuo a considerar Sons of the Silent Age um dos mais significativos temas do músico.
Mais tarde, recordo-me de, assim que Scary Monsters foi publicado, me reunir com amigos e de escutarmos atentamente o álbum, procurando decifrar que significado teria para a década de oitenta. Ou de, numa noite quente de verão, na rua, ouvir pela primeira vez Let’s Dance, que jorrava de uma cassete no autorrádio de um Mini. “Estás a ver? Agora, até o Bowie canta assim!” Aparentemente e no fim de contas, era aquele o som dos anos oitenta. E comprei Tonight e Never Let Me Down e acabei por me desiludir de Bowie. Mas até ele terá sentido o mesmo. Depois, recebi com agrado o primeiro álbum dos Tin Machine enquanto trabalho de regresso às raízes, compreendendo, no entanto, que se tratava de um regresso apenas aonde o tempo permitia. E, basicamente, desliguei-me dos novos trabalhos de Bowie, com exceção para os temas que ouvi enquanto jogava Omikron, até ao dia em que o meu irmão me enviou um email (certamente antes do florescimento do Youtube) com Slip Away anexado. E soube que Bowie estava de regresso. Na verdade, regressara há já algum tempo. Eu simplesmente não reparara. Nessa altura, conhecia bem o resto da sua carreira, que tinha preenchido os espaços em branco enquanto eu me mantinha desatento.
O seu último álbum, Blackstar, apresentado aos poucos no Youtube antes da publicação efetiva, pode facilmente ser considerado “o seu melhor desde Scary Monsters”. Mas não é bem assim. Nele, Bowie revela-se tão inovador como alguma vez terá sido e a produção é de platina. Pessoalmente, não tenho dúvidas de que Bowie ainda tinha muito para dar. Infelizmente, nunca o viremos a saber.
Face à triste notícia, decidi prestar a minha homenagem a um dos mais relevantes artistas de sempre. E a ideia de como o fazer nasceu do Youtube. É verdade que há inúmeros livros sobre Bowie e que muitos deles apresentam importantes entrevistas que concedeu ao longo dos anos. Fundamentalmente entrevistas escritas.
A principal diferença que distingue o presente trabalho é o facto de eu ter optado por utilizar apenas entrevistas em vídeo. O uso exclusivo de entrevistas nesse formato elimina qualquer possível interferência de quem quer que tenha conduzido as entrevistas e transforma um trabalho de “Bowie nas suas próprias palavras” num “Bowie nas suas próprias palavras” sem margem para dúvidas.
Esse foi o meu ponto de partida. Depois, à medida que o trabalho evoluía, decidi que faria sentido acrescentar algumas informações importantes sobre a sua vida e a sua carreira. Nada de extensivo, mas o suficiente para permitir ao leitor compreender cada época na carreira de Bowie, assim como as próprias entrevistas. Finalmente, considerei de interesse adicionar alguns testemunhos (uma vez mais, de fontes de vídeo) de pessoas que conheceram Bowie. E decidi não interferir com a informação, pelo menos de modo intrusivo.
Temos, portanto, um verdadeiro livro de “Bowie nas suas próprias palavras”. Poderá ser necessário fazer alguma leitura nas entrelinhas para efetivamente se compreender e situar os pontos de vista do músico nas entrevistas. Mas penso (e espero) que este seja um trabalho esclarecedor em vez de apenas mais um livro sobre David Bowie. Por fim, espero que tenham tanto gosto em lê-lo como tive em escrevê-lo.
Jorge Simões
Era o tempo em que podíamos entrar numa loja de discos, colocar auscultadores e escutar antes de comprarmos o que quer que fosse. E assim fiz. Entre os discos que selecionei estava Heroes, com a sua enigmática capa a preto e branco. Mal os primeiros sons me chegaram, fascinou-me a combinação da imagem da capa e dos sons algo sombrios mas, ainda assim, claramente sentidos, que se me apresentavam, já que se tratava precisamente do que aquele tempo (uma conjugação de super bandas de rock e disco - que os setores mais conservadores insistiam em afirmar viera para pôr cobro ao rock’n’roll -, além de bandas punk e reggae nos seus primeiros passos), precisava. E senti-me um son of the silent age, o que quer que tal pudesse significar. Heroes foi o meu primeiro disco de David Bowie e, até hoje, continuo a considerar Sons of the Silent Age um dos mais significativos temas do músico.
Mais tarde, recordo-me de, assim que Scary Monsters foi publicado, me reunir com amigos e de escutarmos atentamente o álbum, procurando decifrar que significado teria para a década de oitenta. Ou de, numa noite quente de verão, na rua, ouvir pela primeira vez Let’s Dance, que jorrava de uma cassete no autorrádio de um Mini. “Estás a ver? Agora, até o Bowie canta assim!” Aparentemente e no fim de contas, era aquele o som dos anos oitenta. E comprei Tonight e Never Let Me Down e acabei por me desiludir de Bowie. Mas até ele terá sentido o mesmo. Depois, recebi com agrado o primeiro álbum dos Tin Machine enquanto trabalho de regresso às raízes, compreendendo, no entanto, que se tratava de um regresso apenas aonde o tempo permitia. E, basicamente, desliguei-me dos novos trabalhos de Bowie, com exceção para os temas que ouvi enquanto jogava Omikron, até ao dia em que o meu irmão me enviou um email (certamente antes do florescimento do Youtube) com Slip Away anexado. E soube que Bowie estava de regresso. Na verdade, regressara há já algum tempo. Eu simplesmente não reparara. Nessa altura, conhecia bem o resto da sua carreira, que tinha preenchido os espaços em branco enquanto eu me mantinha desatento.
O seu último álbum, Blackstar, apresentado aos poucos no Youtube antes da publicação efetiva, pode facilmente ser considerado “o seu melhor desde Scary Monsters”. Mas não é bem assim. Nele, Bowie revela-se tão inovador como alguma vez terá sido e a produção é de platina. Pessoalmente, não tenho dúvidas de que Bowie ainda tinha muito para dar. Infelizmente, nunca o viremos a saber.
Face à triste notícia, decidi prestar a minha homenagem a um dos mais relevantes artistas de sempre. E a ideia de como o fazer nasceu do Youtube. É verdade que há inúmeros livros sobre Bowie e que muitos deles apresentam importantes entrevistas que concedeu ao longo dos anos. Fundamentalmente entrevistas escritas.
A principal diferença que distingue o presente trabalho é o facto de eu ter optado por utilizar apenas entrevistas em vídeo. O uso exclusivo de entrevistas nesse formato elimina qualquer possível interferência de quem quer que tenha conduzido as entrevistas e transforma um trabalho de “Bowie nas suas próprias palavras” num “Bowie nas suas próprias palavras” sem margem para dúvidas.
Esse foi o meu ponto de partida. Depois, à medida que o trabalho evoluía, decidi que faria sentido acrescentar algumas informações importantes sobre a sua vida e a sua carreira. Nada de extensivo, mas o suficiente para permitir ao leitor compreender cada época na carreira de Bowie, assim como as próprias entrevistas. Finalmente, considerei de interesse adicionar alguns testemunhos (uma vez mais, de fontes de vídeo) de pessoas que conheceram Bowie. E decidi não interferir com a informação, pelo menos de modo intrusivo.
Temos, portanto, um verdadeiro livro de “Bowie nas suas próprias palavras”. Poderá ser necessário fazer alguma leitura nas entrelinhas para efetivamente se compreender e situar os pontos de vista do músico nas entrevistas. Mas penso (e espero) que este seja um trabalho esclarecedor em vez de apenas mais um livro sobre David Bowie. Por fim, espero que tenham tanto gosto em lê-lo como tive em escrevê-lo.
Jorge Simões