1983: Doublevision TV Wipeout 9 – Sobre Feliz Natal Mr. Lawrence e O Homem Elefante (entrevista realizada em francês e inglês)
Entrevistador: Quantos argumentos recebes diariamente?
David Bowie: Diariamente… Não diria. Mas talvez dez numa semana.
Entrevistador: O que te leva a dizer sim a este ou não àquele? E disseste que sim muito raramente.
David Bowie: Sim. A personagem tem que ter alguma substância. Tem que haver uma relação ou uma afinidade que consiga captar e aplicar à personagem que me pedem para representar. Na verdade, não me identifico muito com marcianos. (risos)
Entrevistador: O que te levou a escolher este? O de (Nagisa) Hoshima?
David Bowie: Duas razões. Por ser Hoshima a realizar, o que obviamente é um magnete poderoso. E a força do próprio papel. Toda a apresentação me pareceu excecional e senti-me incrivelmente privilegiado por ele ter pensado em mim para desempenhar o papel de (Jack) Celliers. E foi também o desafio, visto que se tratava da primeira coprodução sinobritânica que funcionava em ambas as línguas.
Entrevistador: Foste o primeiro ator escolhido e tudo o resto teria que girar à tua volta.
David Bowie: Para mim, o elemento mais forte na produção do filme foi o grau de responsabilidade que Hoshima nos concedeu, regra geral, enquanto atores. Foi a primeira vez em que me foi permitido experimentar com a representação do papel de modo tão lato.
Entrevistador: Tenho a sensação de que vocês são quase gémeos, tu e o (Riuchy) Sakamoto, porque são ambos estrelas do rock e têm a mesma abordagem. Também tens grande cuidado com a fisicalidade da tua personagem. Estudaste mímica?
David Bowie: Sim. Hmm, se estudei? Sim, estudei com um mimo inglês chamado Lindsay Kemp. Quando era jovem, intermitentemente, durante cerca de três anos. E acho que o Lindsay me encorajou, ou encorajou em mim, a ideia de que o palco, no rock’n’roll, poderia ser usado como um mundo alternativo, o que me orientou tão positivamente em direção à teatralidade inicial que imprimi ao rock’n’roll.
Entrevistador: Sim, mas foste muito além. Na tua estreia no palco, na Broadway, assumiste o papel mais exigente de sempre. O do Homem Elefante.
David Bowie: Sim, foi muito assustador. Uma vez mais, foi a crença de alguém em mim que me fez seguir em frente: a de Jack Hofsiss, o encenador. Ele acreditava que eu seria capaz de desempenhar bem aquele papel. E eu tinha que ter a confiança dele para reforçar a minha própria perspetiva otimista.
Entrevistador: Sim, mas não usaste quaisquer acessórios, tiveste que ser tu a fazê-lo…
David Bowie: Foi uma estilização. Acho que teria sido um erro usar maquilhagem, no palco, para o papel, porque nenhuma quantidade de maquilhagem poderia substituir a dor e a angústia que a personagem tinha que suportar. E, através da estilização, o público era levado a imaginar essa dor. Assim, como a imaginação é imensa, assumiam a responsabilidade e, provavelmente, viam mais dor do que a que poderia ter sido produzida através do uso de maquilhagem.
Entrevistador: No entanto, tive a sensação de que, embora o contexto fosse diferente em Fome de Viver (The Hunger) e em Feliz Natal Mr. Lawrence (Merry Christmas Mr. Lawrence), a tua abordagem física foi quase teatral, de ballet, de desenho. Com se te tivesses desenhado, a fisicalidade da personagem, a forma como se movimentava, etc.
David Bowie: Esforço-me muito para o conseguir. (risos) Que é que posso dizer? Essa é a tua observação? Obrigado.
Entrevistador: Todas as personagens que até agora representaste no ecrã têm algo de estranho, algum tipo de dimensão alienígena…
David Bowie: Sim, sim…
Entrevistador: Isso acontece porque não consegues representar um simples homem comum?
David Bowie: Acho que é porque os realizadores têm tido muita dificuldade em me imaginar numa situação mais banal que procurei dirigir-me mais para personagens com traços interiores humanos. E o culminar, até agora, foi a personagem Celliers, no filme de Hoshima, que foi o mais próximo do homem comum que consegui até agora.
David Bowie: Diariamente… Não diria. Mas talvez dez numa semana.
Entrevistador: O que te leva a dizer sim a este ou não àquele? E disseste que sim muito raramente.
David Bowie: Sim. A personagem tem que ter alguma substância. Tem que haver uma relação ou uma afinidade que consiga captar e aplicar à personagem que me pedem para representar. Na verdade, não me identifico muito com marcianos. (risos)
Entrevistador: O que te levou a escolher este? O de (Nagisa) Hoshima?
David Bowie: Duas razões. Por ser Hoshima a realizar, o que obviamente é um magnete poderoso. E a força do próprio papel. Toda a apresentação me pareceu excecional e senti-me incrivelmente privilegiado por ele ter pensado em mim para desempenhar o papel de (Jack) Celliers. E foi também o desafio, visto que se tratava da primeira coprodução sinobritânica que funcionava em ambas as línguas.
Entrevistador: Foste o primeiro ator escolhido e tudo o resto teria que girar à tua volta.
David Bowie: Para mim, o elemento mais forte na produção do filme foi o grau de responsabilidade que Hoshima nos concedeu, regra geral, enquanto atores. Foi a primeira vez em que me foi permitido experimentar com a representação do papel de modo tão lato.
Entrevistador: Tenho a sensação de que vocês são quase gémeos, tu e o (Riuchy) Sakamoto, porque são ambos estrelas do rock e têm a mesma abordagem. Também tens grande cuidado com a fisicalidade da tua personagem. Estudaste mímica?
David Bowie: Sim. Hmm, se estudei? Sim, estudei com um mimo inglês chamado Lindsay Kemp. Quando era jovem, intermitentemente, durante cerca de três anos. E acho que o Lindsay me encorajou, ou encorajou em mim, a ideia de que o palco, no rock’n’roll, poderia ser usado como um mundo alternativo, o que me orientou tão positivamente em direção à teatralidade inicial que imprimi ao rock’n’roll.
Entrevistador: Sim, mas foste muito além. Na tua estreia no palco, na Broadway, assumiste o papel mais exigente de sempre. O do Homem Elefante.
David Bowie: Sim, foi muito assustador. Uma vez mais, foi a crença de alguém em mim que me fez seguir em frente: a de Jack Hofsiss, o encenador. Ele acreditava que eu seria capaz de desempenhar bem aquele papel. E eu tinha que ter a confiança dele para reforçar a minha própria perspetiva otimista.
Entrevistador: Sim, mas não usaste quaisquer acessórios, tiveste que ser tu a fazê-lo…
David Bowie: Foi uma estilização. Acho que teria sido um erro usar maquilhagem, no palco, para o papel, porque nenhuma quantidade de maquilhagem poderia substituir a dor e a angústia que a personagem tinha que suportar. E, através da estilização, o público era levado a imaginar essa dor. Assim, como a imaginação é imensa, assumiam a responsabilidade e, provavelmente, viam mais dor do que a que poderia ter sido produzida através do uso de maquilhagem.
Entrevistador: No entanto, tive a sensação de que, embora o contexto fosse diferente em Fome de Viver (The Hunger) e em Feliz Natal Mr. Lawrence (Merry Christmas Mr. Lawrence), a tua abordagem física foi quase teatral, de ballet, de desenho. Com se te tivesses desenhado, a fisicalidade da personagem, a forma como se movimentava, etc.
David Bowie: Esforço-me muito para o conseguir. (risos) Que é que posso dizer? Essa é a tua observação? Obrigado.
Entrevistador: Todas as personagens que até agora representaste no ecrã têm algo de estranho, algum tipo de dimensão alienígena…
David Bowie: Sim, sim…
Entrevistador: Isso acontece porque não consegues representar um simples homem comum?
David Bowie: Acho que é porque os realizadores têm tido muita dificuldade em me imaginar numa situação mais banal que procurei dirigir-me mais para personagens com traços interiores humanos. E o culminar, até agora, foi a personagem Celliers, no filme de Hoshima, que foi o mais próximo do homem comum que consegui até agora.