Testemunhos
Melhor ou pior, ao longo da vida, muita gente, nomeadamente do mundo das artes, conheceu Bowie. Seguem-se alguns testemunhos de gente que com ele se cruzou.
Angela Barnett/Bowie
Entrevista ao Daily Mail, 2016
Angela: Fiquei muito chocada quando soube da morte do David, não acreditei, nunca achei que morresse antes de mim. Guardo recordações dele, de todos os nossos momentos felizes, é uma coisa fantástica que acontece quando alguém morre, acho que não nos lembramos das coisas más, apenas dos bons tempos, o nascimento de Zowie, o nosso casamento, Madison Square Garden, ele a tocar… Na verdade, até Carnegie Hall, um dos primeiros grandes concertos que tivemos em Nova Iorque. Portanto, recordo apenas os tempos maravilhosos que vivemos juntos.
Não faço ideia do que é que pôs termo ao nosso casamento. Talvez ele se sentisse aborrecido e quisesse avançar. Como é que me tratou depois? Com total desdenho e desrespeito. Isso não tem nada a ver com o facto de ele ter morrido. A sua morte é que nos está a afetar e entristecer. Então, não acho que seja o momento para falar sobre a dor e a mágoa que se seguem a um divórcio. Isso é de baixo nível.
O fim do nosso casamento significou que não vi o meu filho tanto quanto gostaria. Mas é o que acontece quando não se fica com a guarda de um filho, a arma principal a usar num divórcio.
Ben Stiller e Owen Wilson
Entrevistados para a Metro em 2016
Hanna Flint: O convidado especial mais memorável no primeiro Zoolander, certamente o mais comovente neste momento, foi David Bowie. Que memórias guardam de estar no local de filmagens com David Bowie?
Owen Wilson: Lembro-me apenas de que estava excitado por saber que o ia conhecer… Acho que ele estava habituado a que as pessoas ficassem abismadas e era, simplesmente, um tipo fixe e adorável que punha as pessoas à vontade. E também tinha um grande sentido de humor. E nós perguntávamo-nos: “Porque é que ele fez isto? Porque é que ele concordou em entrar no filme?”
Ben Stiller: Vai continuar para sempre um mistério…
Owen Wilson: Sim.
Ben Stiller: Ele teve a gentileza de participar no filme e foi um dia especial, ele era um óptimo ator além de ser um génio musical, mas era realmente um bom ator e divertimo-nos, acho, e ele embarcou na nossa onda.
Brendon Urie (Panic At the Disco)
Entrevistado em 2016
Alex Gale: Ainda falamos sobre o impacto da morte de David Bowie, que nos deixou a todos destroçados. Quando eu vejo, ouço a tua música e, sem dúvida, quando falas no palco, parece-me encontrar uma grande influência do Bowie. Poderias dizer-nos o que Bowie significava para ti e o que a sua música e o seu visual te diziam?
Brendon Urie: Claro. David Bowie significava muito para mim. Desde que eu era um miúdo. E a primeira vez em que me captou a atenção, mais uma vez, foi num filme. Quando era miúdo, era muito ligado ao cinema, via muitos filmes, passava muito tempo sozinho. E, depois de ter visto o Labyrinth, queria ser o Jareth, o rei dos Goblins, queria ser ele. Era como se não existisse ninguém mais fixe, nenhum homem mais bonito, era espantoso. E quando soube que ele também cantava eu fiquei como “Quem é este tipo?” Depois, ouvir o Hunky Dory e o Space Oddity e outras coisas antigas… A primeira canção que me impressionou foi Oh! You Pretty Things. Mas, para mim, David Bowie sempre foi um símbolo de originalidade, acho que ele foi o mais único e o mais raro de nós. Tinha aquela capacidade de, a cada década, às vezes a cada meia década, reinventar o seu som, a sua aparência, a sua imagem, a si mesmo, melhorar enquanto artista… Não há muita gente que o consiga quando envelhece. Acho que há algo que se perde. Quando as pessoas envelhecem o sonho perde-se, perdemos a capacidade infantil de nos maravilharmos e, nele, isso nunca se perdeu. E ele sempre… Na verdade, o último álbum que fiz, Too Weird to Live (Too Weird to Live, Too Rare to Die, de 2013), eu queria imitar a forma como o David Bowie se mostrava nas capas e não queria esconder-me atrás de alguma outra imagem na capa, queria estar presente e usar a minha imagem no sentido mais teatral, como uma homenagem a David Bowie. Portanto, ele teve imensa influência em mim. E continuará a tê-la porque há músicas infindáveis a que posso regressar e são mesmo bonitas… Pessoalmente, adoro-as!
Brian Eno
Entrevista de 2016 para o canal britânico Channel 4 News
Krishnan Guru-Murthy: Podes falar-me sobre o David Bowie?
Brian Eno: Sabes, não nos encontrávamos assim tão frequentemente… Correspondíamo-nos por email, trocávamos piadas. Na verdade, essa era a base da nossa relação, piadas e recomendações de filmes e de livros, entre outras coisas.
Krishnan Guru-Murthy: Mesmo quando estavam a gravar discos?
Brian Eno: Quando gravávamos discos, a verdade é que passávamos o tempo a rir. Como o que fizemos foi, de certa forma, música muito séria, foi bastante surpreendente ver o que fizemos no estúdio onde, na realidade, estávamos sempre a representar. Ele era o Pete e eu o Dod. (risos)
Coldplay
Johnny Buckland e Will Champion ao NME, em 2016
Johnny Buckland: Senti-me incrivelmente triste quando soube que David Bowie tinha morrido. Todos adoramos a música dele desde que começámos a ouvir música.
Will Champion: Quando estamos, de algum modo, envolvidos na música, ele é… Era um dos pontos de referência para absolutamente tudo. Para os géneros musicais e para como ser uma estrela do rock ou da pop, fosse o que fosse, definia tudo. Então, para músicos, como nós, acho que é muito desorientador. Mas, de manhã, quando li sobre a morte dele, mandei uma mensagem ao Brian Eno e disse-lhe que todos tínhamos perdido um herói da música, mas que ele, obviamente, tinha perdido um amigo querido. O seu desaparecimento súbito e a sua morte foi tão tipicamente enigmática e o Brian nem sabia de nada… Nem sequer fazia ideia de que ele estivesse doente. É extraordinário. E ele tinha-lhe enviado um email há apenas uns dias, uma semana. É extraordinário como ele conseguiu… mesmo a sua morte triste e fora de tempo foi uma obra de arte, sabes… É espantoso. Acho que o Chris (Chris Martin, vocalista dos Coldplay) certa vez lhe apresentou uma canção e pediu “Poderias, por favor, cantar nesta canção porque tem esta parte?” Tinha três partes. E tínhamos uma personagem do tipo David Bowie. E acho que o Chris lhe mandou mesmo uma carta a pedir: “Por favor, canta neste tema”. E ele respondeu: “A canção não é muito boa, pois não?” E nós respondemos: “Ok. Supomos que seja um não”. Quer dizer que ele era muito perspicaz, não emprestava o seu nome a qualquer coisa. Reconheço-lhe esse mérito.
Dave Grohl
Fonte desconhecida
Dave Grohl: Lembro-me de os Foo Fighters terem aparecido num festival com o Bowie, há coisa de 13 anos, na Suíça. Havia lá umas trinta mil pessoas e eu estava aterrorizado… A banda não teria mais do que ano e meio. E subi ao palco, tocámos e o público estava como que… (bate palmas calmamente) “ok, é fixe”. Mas eu pensava “O que é que estou a fazer? Nem sequer sou um cabeça de banda!” E, então, apareceu o Bowie, começou a atuar no palco e o público inteiro enlouqueceu! Ele levanta um dedo e o público desmaia. E eu: “Como diabo é que ele fez aquilo?”
Denis Leary
Entrevistado no Jimmy Kimmel Live
Jimmy Kimmel: Qual é a tua banda preferida de sempre?
Denis Leary: À vontade, os Rolling Stones. Rolling Stones, The Who, David Bowie.
Jimmy Kimmel: Conheceste alguns deles?
Denis Leary: Conheci o Mick Jagger e os tipos dos The Who. Mas David Bowie, não sei porquê, mas para mim ele é como um deus. E conheci-o quando estava começar a ser conhecido, estava a gravar uma coisa para a televisão e tínhamos que ir ao exterior fumar. Então, fui ao beco, fumar junto à porta do palco…
Jimmy Kimmel: És fumador? (o público ri) Desculpa!
Denis Leary: (risos) Bom, ele fumava e era o músico convidado. Eu estava lá fora e, de repente, o David Bowie aparece e diz: “Tens um cigarro?” E eu nem conseguia falar. Então, dei-lhe um cigarro e disse: “Como estás?” E ele: “Ei, então, como é que é o Bobcat Goldthwait (ator, comediante, roteirista e realizador norte-americano)?” E eu a estranhar: “Como é que é o Bobcat Goldthwait?” E ele diz: “Sim, é estranho, é estranho?” E eu: “Sim, um bocadinho, mas menos do que a personagem que representa”. “E o Steven Wright (ator, comediante, escritor e produtor norte-americano)? Como é que é? É estranho?” E eu: “Sim, realmente é estranho”. E lá estava eu a pensar “isto é bom” porque vou ter uma conversa com o Bowie. E ele pergunta: “Bom, e o Bobcat usa mesmo aquelas roupas?” E eu a pensar: que é que se passa? Isto é de doidos! E então chamaram-no para dentro, nunca mais falei com ele, nunca mais o vi. Juro. Portanto, a minha conversa com Bowie foi sobre o Bobcat e o Steven Wright.
Jimmy Kimmel: o Bobcat vai adorar esta história!
Denis Leary: Já a ouviu. O meu receio é que da próxima vez em que encontre o Bowie, ele me pergunte: “Ei, como é que está o Bobcat? O Steven Wright continua estranho? Que é que está a acontecer?”
Jimmy Kimmel: Ouvi dizer que tem um bom sentido de humor e provavelmente vai mesmo fazê-lo.
Denis Leary: Sim, ao que parece é fã de comédias.
Earl Slick
Fonte desconhecida
Entrevistador: Qual considerarias ter sido verdadeiramente a tua primeira grande oportunidade?
Earl Slick: Houve uma grande oportunidade e seguiu-se-lhe uma enorme oportunidade. A primeira foi ter sido apresentado a um homem chamado Michael Kamen, que mais tarde se tornou um grande compositor de trilhas sonoras para filmes. Ele tinha conhecido o David Bowie em 1974, mesmo depois do Mick Ronson ter saído da banda. E eu tinha feito alguns trabalhos para o Michael, como tocar a guitarra na banda dele em pequenas tours que organizava. E foi ele que me apresentou a Bowie, o que precipitou a audição que acabei por fazer para ele.
Entrevistador: Obviamente, essa relação cresceu e deu óptimos frutos durante alguns anos.
Earl Slick: Sabes, com o David Bowie tem sido uma coisa intermitente, desde 1974 até à última tournée de há dois anos. Com alguns espaços em branco, com cada um de nós em sítios diferentes ou eu ocupado com outra coisa ou ele a decidir que queria uma banda diferente, mas, regra geral, acabei por regressar. Há trinta anos que tenho andado dentro e fora da banda. Muito tempo.
Entrevistador: De cada vez que voltas a tocar com ele é como voltar a vestir uma velha peça de vestuário confortável?
Earl Slick: Sem dúvida. Quando se faz uma coisa com alguém assim um número suficiente de vezes, sabemos porque é que lá estamos, ele sabe porque nos quer lá e torna-se canja. Mesmo fácil.
Entrevistador: Ambos conhecem as potencialidades do outro e o que o outro pretende?
Earl Slick: Sabes, quando o David forma uma banda, fá-lo com base em certas personalidades e certos pontos de vista artísticos e certas formas de tocar que encaixam como um puzzle. Se pensares bem, a maioria dos elementos numa banda do Bowie, a maioria não, todos os que conheço, são igualmente artistas de pleno direito. Sabes, eu tenho uma tarefa específica, o Gerry Leonard, o outro guitarrista, tem a sua própria função e sabemos do que se trata. Quero dizer, há tanto tempo que toco intermitentemente com o David que simplesmente… Sei porque é que lá estou. E isso torna tudo muito mais fácil.
(…)
Entrevistador: O teu concerto preferido de sempre?
Earl Slick: O melhor de tudo foi a tour do David Bowie. Escolhe qualquer uma!
Entrevistador: Todas as noites?
Earl Slick: Todas as noites. Sim.
Elton John
Entrevistado para a SiriusXM em 2016
David Fricke: Acabámos de perder David Bowie. Consegues descrever o impacto que ele teve em ti enquanto artista e como músico?
Elton John: Bom, se não tivesse sido o David Bowie, nunca teria encontrado o meu primeiro produtor, Gus Dudgeon, e o Paul Buckmaster, que fizeram os arranjos dos meus três primeiros álbuns. Porque quando ouvi o Space Oddity achei que era o disco mais incrível que alguma vez ouvira. E a produção e os arranjos dessa canção, eu disse: “Quem quer que tenha feito isso, quero mesmo trabalhar com ele”. Então, contactei o Gus Dudgeon e o Paul Buckmaster e fizemos juntos o álbum Elton John, assim como muitos mais. Tenho que agradecer ao David por isso, sabes, o que posso…? Disse-se e escreveu-se tanto sobre ele durante os últimos dias… Acabei de o dizer ao David (David Furnish, o marido de Elton John)… Todos sabemos como ele era inspirador, todos sabemos o que representa a sua música, não temos que comentar a música dele, ela fala por si. Ele foi inovador, mudou as perceções e só fez o que quis, o que é raro em qualquer artista. Mas o que eu mesmo gostei na parte final da sua vida foi a sua incrível privacidade durante o que devem ter sido dez anos de azares com doenças, ataques cardíacos, cancro… Ele manteve tudo isso privado numa época em que toda a gente sabe de tudo, tudo privado, e fez dois álbuns sem que ninguém soubesse que os estava a fazer. Obviamente, recebeu tratamento para as suas doenças sem que ninguém soubesse ou dissesse… E essa é a mística do homem porque conhecemos David Bowie enquanto figura, cantor, artista ultrajante… Na verdade, não sabemos nada sobre ele e é assim que deveria ser na música e em qualquer outra forma de arte. E a dignidade, como que planeou a sua morte, há um tema no álbum chamado Lazarus e é óbvio que compôs essa canção sobre a sua própria morte. E há um musical off-Broadway em que o Michael C. Hall a canta e é mesmo de arrepiar quando se ouve. Para mim, isso é um verdadeiro artista. Já não há ninguém como ele, perdemos um talento imenso que influenciou muita gente… Influenciou-me com o seu sentido de humor e o primeiro espetáculo em que o vi foi no Finsbury Park Astoria, em Londres. Eu e o Bernie (Taupin) fomos vê-lo… Os Roxy Music eram a banda de suporte, ele tinha o cabelo comprido, baton, verniz nas unhas, dá para ver há quanto tempo foi, e o David tocou o Ziggy Stardust. Fantástico! Insubstituível.
Freddie Mercury
Fonte desconhecida
Antes de mais, eu não sonho com o David Bowie! Simplesmente… Sonho, intelectualmente, em escrever uma canção com ele, mas está para lá das minhas capacidades. O que se passa é que éramos amigos e, por vezes, quando artistas diferentes se encontram na altura certa e se as personalidades se dão, isso é mais importante do que qualquer outra coisa.
Iggy Pop
Entrevista com Dave Kendall no programa 120 minutes da MTV, em julho de 1990. Difundido em janeiro de 1991
Dave Kendall: O teu primeiro álbum a solo foi The Idiot. Que papel desempenhou David Bowie na tua emergência enquanto artista a solo?
Iggy Pop: Bom, deixa-me colocar a questão assim… Antes de ter feito esse álbum eu era basicamente, era uma pessoa da rua, basicamente em Los Angeles, e tinha sido mais ou menos bloqueado por todos no negócio da música e por um manager verdadeiramente desastroso em geral e por problemas com drogas e com álcool e farras, sabes… Então, na altura eu podia ter reunido algum tipo de banda de rock de êxitos, alguma coisa glam, alguma coisa sem gosto, e, no momento exato, ele sugeriu-me duas coisas: sair de Los Angeles, o que era ótimo, e fazer um álbum em conjunto, o que era uma boa ideia porque ele era mesmo… Ele era suficientemente louco para experimentar o que quer que fosse e em qualquer momento, seria capaz de fazer tudo o que precisasse para realizar um trabalho realmente bom, é um indivíduo muito estimulante artisticamente e o seu álbum, o álbum dele que saiu na altura chamava-se Station to Station, é um álbum fantástico, um álbum mesmo bom… Então, sim, foi muito instrumental nisso, acho que se não tivesse aparecido com aquela proposta talvez eu não estivesse agora a falar contigo.
Dave Kendall: É verdade?
Iggy Pop: Bom, sim, estaria a tocar em algum lado, provavelmente na 42nd Street ou algo assim, sabes, algo assim. Portanto, foi um golpe de sorte.
Iman
Entrevistada em Fashion Icons, 2015
Iman: Eu sempre afirmei não estar casada com David Bowie, estou casada com David Jones. Há uma grande diferença. Não temos imagens nossas em casa de coisas que tenhamos feito, a nossa casa é mesmo a nossa casa. Nunca recebi jornalistas no meu apartamento. É um sítio onde não entram. E, assim, vê-se a diferença entre uma pessoa e uma personalidade. É completamente distinto.
Jennifer Connelly
Entrevistada para o Entertainment Tonight, 2015
Entrevistadora: De que te lembras mais deste filme que acabou por se tornar icónico?
Jennifer Connelly: Foi uma experiência avassaladora. Trabalhar nesse filme, para mim, foi como estar no país das maravilhas. Eu devia ter uns 14 anos e filmámos em Inglaterra, os locais de filmagem eram enormes, maravilhosamente desenhados e cheios de bonecos. Para uma miúda, era mágico. A equipa era extremamente simpática e eu adorava o Jim Henson e o David Bowie foi tão meigo e foi ótimo, foi maravilhoso fazê-lo. Provavelmente melhor do que ver o filme, fazê-lo foi uma experiência muito especial.
Entrevistadora: Eras muito jovem. Lembras-te de Bowie?
Jennifer Connelly: Sim. Era muito, muito simpático, muito caloroso, era adorável. Tanto quanto me lembro, era um tipo simpático que brincava e se mostrava amigável com a equipa.
John Cale
Entrevista com o canal britânico Channel 4 News em 6 de fevereiro de 2016
Matt Frei: Gostaria de falar acerca de alguém de quem todos falámos recentemente, David Bowie. Como te sentiste quando recebeste a notícia?
John Cale: Não conseguia acreditar. Foi muito triste. Mas, depois, assisti a alguns dos vídeos que ele tinha feito e era muito franco, decididamente direto. Achei que ele tinha sido mesmo duro. E foi desconfortável.
Matt Frei: De que te recordas dele em Nova Iorque?
John Cale: Oh, íamos muito ao Mudd Club (clube nova-iorquino aberto entre 1978 e 1983 que albergou grande parte da contracultura da época). Basicamente a beber bastante e a perseguir as raparigas… Divertimo-nos muito.
Matt Frei: Ele veio para Nova Iorque por causa de gente como tu, porque vieste antes, no início dos anos sessenta para trabalhar com os Velvet Underground…
John Cale: Sim, acho que sim. Ensinei-lhe a tocar viola de arco.
Matt Frei: Ensinaste-lhe a tocar viola de arco?
John Cale: Ensinei. Demos um concerto no Town Hall para a Tibet Society. Eu ia tocar um tema chamado Sabotage (faixa do álbum ao vivo Sabotage/Live, gravado no CBGB, em Nova Iorque, a 16 de junho de 1979). E ele também lá estava. E perguntei: “Não queres tocar a viola de arco?” Mostrei-lhe como se fazia e ele subiu ao palco e tocou-a do início ao fim da canção. Quero dizer, foi ótimo.
Matt Frei: Simplesmente agarrou o tema?
John Cale: Sim, estava pronto para tudo. Era muito bom.
Lou Reed
Fonte desconhecida
O Satellite (Satellite of Love, do album Transformer, de 1972, produzido por David Bowie e Mick Ronson) é o David! O David é fantástico em coros! Bang-bang-bang, tudo bem, está ótimo, mas realmente fantástica é a nota aguda no final. Quero dizer, muito pouca gente o conseguiria fazer, adorei quando ele o fez, que movimentação! Repara, eu acho que tudo tem a ver com os detalhes e esse foi o ponto de exclamação. Eu acho que quando ele sobe assim muito pouca gente o conseguiria igualar. Verdadeiramente puro e bonito.
Mike Garson
Fonte desconhecida
Houve três elementos que eu trouxe à música de Bowie… Um deles foi o aspeto vanguardista em que toco furiosamente, outro um certo aspeto romântico e muito clássico e, por fim, o tipo de vanguarda em passos largos que uso em Time. Fui contratado por apenas oito semanas em 1972 e acabei por ser o membro da sua banda que mais tempo se manteve. E tinha a capacidade, digamos, de imitar ou duplicar o que quer que fosse que ouvisse. A verdade é que o difícil foi desaprender isso para poder criar a minha própria música. Sabes, não tenho fronteiras musicais. A música é sempre afetada pelo que me rodeia, os meus sons… Simplesmente ouço música. As pessoas ouvem tipos de música. Eu não. Ouço apenas música.
Moby
Entrevista com Larry King para o Larry King Now da Ora.TV, 2016
Larry King: Afirmaste, numa entrevista do ano passado, que a obra de arte que mais gostarias de ter criado era o Heroes, do David Bowie. Também andaste em tour com ele. Ele era impecável. Sensível. Inteligente.
Moby: Uma das pessoas mais desconcertantemente inteligentes que alguma vez conheci. E, antes de tudo, sempre que… Ele morava em frente a mim em Nova Iorque, eu morei na Mott Street durante mais de vinte anos e ele vivia mesmo em frente, na Lafayette e Mulberry, pelo que podíamos cumprimentar-nos dos nossos telhados e fazíamos churrascos juntos, íamos tomar café juntos, encontrava-o na mercearia local em Prince Street e tornámo-nos muito próximos. Mas, durante todo o tempo, sempre que saíamos, estava sempre consciente do facto de que ele era o meu músico preferido de todos os tempos e que, para mim, ele era como que uma espécie de híbrido entre um semideus e a realeza.
Larry King: Então, sentias-te privilegiado por estares com ele?
Moby: Privilegiado e incrivelmente intimidado.
Nile Rodgers
Entrevistado para o Gigwise em fevereiro de 2016
Creio que as pessoas pensarão no David Bowie da mesma forma como se pensa nos grandes mestres de outros géneros musicais. Sabes, na música pop não parecem tratar-nos do mesmo modo, não nos tratam como se trata Bartok ou Prokofiev ou Brahms ou Mozart… Penso que Bowie será recordado como se recorda o Miles (Davies) e o (John) Coltrane, só que neste campo específico da música pop. Ele foi um verdadeiro inovador. Quero dizer, não criava simplesmente música. Criava ideias e ideias incríveis. E acho que o mundo vai reconhecer isso mesmo. Infelizmente, o que sucede é que a maioria dos compositores se torna mais famosa depois de partir porque se compreende como eram brilhantes e deseja-se que ainda estivessem connosco. Quando conheci Bowie ele não foi nada teatral, tinha o aspeto de um homem de negócios e foi no início dos anos oitenta, havia toda a cena dos clubes e todos estávamos numa onda estranha, hip-hop, os rapazes usavam caudas de raposa e tudo o mais e o David era o tipo sentado naquele clube noturno, com um fato, a beber um copo de sumo de laranja. Ele era o tipo que parecia deslocado. Reparei nele imediatamente e começámos a falar e, instantaneamente, a conversa passou dos nossos amigos mais chegados para músicos e compositores de heavy jazz. E acabámos por ficar na conversa toda a noite e, em apenas alguns dias, ele tinha decidido que me queria encontrar novamente e, em apenas algumas semanas, estávamos na Suíça a gravar a primeira demo. Contextualizemos tudo isto… Na altura em que fiz o Let’s Dance as pessoas não me consideravam propriamente fixe porque foi depois da cena do “disco sound não presta”. O único disco número um que tive depois disso, não o digo de forma narcisista, mas o meu primeiro disco foi importante, assim como todos os discos que fiz até ao “disco sound não presta”… Em 1979, tinha dois discos em número um nas tabelas da Billboard. E então, depois da Diana Ross, em 1980, não tive qualquer sucesso até ter conhecido o David. Para mim, foi estranho ter passado de uma posição em que todos os meus discos eram sucessos para simplesmente não obter qualquer reconhecimento. Então, basicamente o David salvou um homem que se estava a afogar. E o mais estranho é que ele nem sequer tinha um contrato discográfico. Tinha sido abandonado, eu tinha sido abandonado e tivemos que pensar no que iríamos fazer juntos. O facto de ele ter confiado em mim numa altura em que a maioria das pessoas nem sequer atendiam os meus telefonemas foi o máximo. E alguém da estatura dele! Porque eu sabia que só o facto de trabalhar com ele, mesmo que falhássemos, melhoraria a forma como as pessoas pensavam em mim no negócio da música.
Peter Frampton
Entrevistado no CBS Sunday Morning em fevereiro de 2012
Peter Frampton: Nessa altura, ele reapresentou-me como guitarrista.
Anthony Mason: Que era o que querias?
Peter Frampton: Sim. A carreira de uma estrela da pop dura 18 meses. A carreira de um músico dura a vida inteira. E foi isso que aprendi.
Reeves Gabrels
Entrevistado para a Guitar Shop TV em 2012
Reeves Gabrels: O interessante é que o facto de o ter conhecido como civil, não como músico, talvez seja a razão por que trabalhámos juntos durante quinze anos. Eu não fui um tipo qualquer que ele tenha contratado e a quem tenha dito: “Sim, acho que isto precisa de uma estrutura do género de um catedral gótica ou o solo tem que se aproximar de Jackson Pollock”. Eu podia pegar no conceito, mesmo se a minha interpretação do conceito era diferente, poderia regressar com uma explicação racional dessa técnica de splatter (técnica de pintura usada por Jackson Pollock, aqui adaptada à música) e trabalhámos muito dessa forma e, além disso, quando não estávamos em público ele lembrava-me de todos os tipos com quem costumava conviver, especialmente um dos meus colegas de quarto. E tinha uma espécie de característica de irmão mais velho, sendo que era 10 ou 11 anos mais velho do que eu, falava muito comigo sobre a indústria e a forma como as coisas funcionavam e acho que o que eu lhe trouxe foi o facto de que se não me sentisse bem a fazer uma coisa, simplesmente não a fazia, não estava disposto a fazer quaisquer concessões ao comercialismo. E quando descobri que o contrato dele lhe dava controlo criativo, a única questão passou a ser se ia fazer coisas como Never Let Me Down e Tonight, esses álbuns que eu não achava que tinham saído muito bem, a escolha era apenas dele. Um dia, disse-lhe: “Tudo o que tens que fazer, se queres fazer uma coisa que seja…” – aquilo em que nos tornámos – “…agressiva e se for a música de que gostas, quando ouves coisas nesse estilo, a única questão é que tens escolher. Porque a companhia de discos vai-te publicar e o teu ego tem que estar pronto a aceitar que não te passem nas rádios de música pop, mas se não gostas de música pop, então vamos tocar rock!” E foi o que fizemos. Sem dúvida que nós… Foi polarizador… A música dos Tin Machine foi polarizadora de modo positivo.
Brian Lippey: Mas isso foi um verdadeiro ponto de partida!
Reeves Gabrels: Sim. Se olharmos para os 25 anos da carreira anterior do David, conseguimos ver de onde tudo isso vem. E as coisas que acabámos por fazer mais tarde, como por exemplo, o álbum Earthling é um dos meus preferidos, era como um encontro entre o drum and bass electronica e uma banda de rock. E era algo que podíamos prever e, na verdade, o meu modelo para o Earthling foi, basicamente, o Who’s Next (ábum dos The Who, de 1971). Porque é o protótipo das bandas de rock a usarem a eletrónica. O nosso melhor trabalho foi aquele em que fizemos coisas que não se podiam ouvir em mais lado nenhum.
Rick Wakeman
Entrevistado para o programa This Morning, do canal britânico ITV, em 2016
Philip Schofield: A história tem a ver com o mellotron. Em 1968, eras a única pessoa capaz de o tocar. O produtor de Space Oddity soube que eras o único a tocar esse instrumento.
Rick Wakeman: Havia mais algumas pessoas capazes de o tocar mas eram… é muito difícil manter as máquinas afinadas. Eu conseguia mantê-lo afinado, pelo que me contrataram para a sessão. E foi a primeira vez com o David, foi assim que nos tornámos amigos e que eu fiz muito mais coisas com ele. Pensa-se muitas vezes que o mellotron tem aquele sonzinho engraçado no meio que é “brl-ll-ll”. A verdade é que isso é um stylophone. E David ia a caminho do estúdio em Wardour Street, onde estávamos a fazer a gravação, e havia uma lojazinha onde estavam a lançar o stylophone e ele entrou e comprou um por uma libra. Chegou e o Tony Visconti disse-lhe que não ia poder incluí-lo no disco. E ele disse: “Mas vou”. E incluiu-o.
Philip Schofield: Pagaram-te nove libras por essa sessão.
Rick Wakeman: Sim, pois foi. Era o preço da sessão na época, nove libras.
Philip Schofield: Como era trabalhar com ele enquanto músico?
Rick Wakeman: Era a pessoa mais influente de sempre, portanto trabalhei muito com ele depois. Toquei noutras faixas, como o Wild Eyed Boy From Freecloud e o Memory of a Free Festival, depois toquei no Hunky Dory e, mais tarde, no Absolute Beginners, que foi muito divertido e ent… Fomos vizinhos durante quatro anos e meio, na Suíça. Encontrávamo-nos muitas vezes. Mas era um homem extremamente capaz para trabalhar no estúdio. Absolutamente brilhante. Aprendi muito com ele e com o seu produtor, o Tony Visconti, provavelmente mais do que com qualquer outra pessoa.
Philip Schofield: Mas tiveste a oportunidade disso porque, ironicamente, no mesmo dia em que te convidaram para te juntares aos Spiders From Mars também foste convidado para integrares os Yes…
Rick Wakeman: Foi bizarro, foi no mesmo dia. Tinha estado de manhã com os Yes para um ensaio, eles disseram-me “Junta-te à banda” e depois, à noite, o David tinha-me convidado para um encontro no Hampstead Country Club com o Mick Ronson. E disse-me: “Estou a formar uma banda, os Spiders from Mars. Quero que o faças comigo”. Eu respondi: “Oh, acabam de me convidar para os Yes…” E ele: “Que é que vais fazer? Bom, pensa nisso…” Ele era mesmo um tipo genuinamente simpático. Era um fazedor, não um pensador. Detestava quando as pessoas diziam “Eu podia ter…” As pessoas diziam: “Oh, eu podia ter feito isso!” Ele detestava isso. Quero dizer, se ele quisesse descer a rua principal vestido com um roupão de mulher, fá-lo-ia! Certo dia, na Suíça, disse-me: “Não tenho a certeza de que o capitalismo seja a resposta, portanto vou viver uns tempos em Berlim Leste”. E foi mesmo viver em Berlim Leste para ver como era. Lembro-me de quando finalmente regressou, alguns meses mais tarde, encontrei-o num pequeno clube, o Museum Club, em Montreux, e perguntei: “Bom, que tal foi por lá?” Ele respondeu: Também não funciona”. Mas, pelo menos, foi lá e experimentou!
Ricky Gervais
Fonte desconhecida
Convidam-nos para tantas coisas… Queres ir a isto? Não. Queres ir…? Não. Queres…? Não. Vamos ter uma noite de talentos na BBC! Não. Bom, mas chegou uma, era um concerto VIP com o David Bowie. Ora, há uns bons trinta anos que o Bowie era o meu herói. Então, fomos, eu e uma namorada, e foi fantástico. No fim, fomos para a sala verde (sala, num teatro ou num estúdio, onde os artistas podem relaxar quando não estão a atuar) e éramos muito poucos. E o Greg Dyke, que estava à frente da BBC na altura, aproximou-se e perguntou: “És fã?” “Adoro o Bowie” “Anda conhecê-lo!” E eu: “Não, não, não, não”. E ele insistiu: “Anda conhecê-lo!” Quando eu ia ter com o Bowie, ele exclamou: “Salman!” Era o Salman Rushdie, que se juntou a nós. Assim, lá estava eu, o Greg Dyke, a namorada, o Salman Rushdie e íamos ter com o David Bowie. De loucos! Mais tarde, estava no pub com o meu amigo Johnny e ele perguntou: “Que é que fizeste ontem à noite?” E eu disse: (numa voz baixa e abafada) “Nada”. Que é que lhe ia dizer? Que estava conviver com o Salman Rushdie e o David Bowie… “Que é que fizeste?” E eu simplesmente não disse nada. Além do mais, não acho que ele soubesse quem eu era na altura. Acho que alguém lhe disse depois e deram-lhe um DVD de A Empresa (The Office, série televisiva com Ricky Gervais, que passou entre 2001 e 2003). E, assim do nada, recebi um email dele. Ele parece o FBI, arranjou o meu email, está ligado em permanência à World Wide Web! E ele escreveu simplesmente: “Já vi. Já me ri. O que é que faço agora?” E tornámo-nos correspondentes. E lembro-me de que lhe enviei um email para o seu 57º ou 58º aniversário e que escrevi: “Feliz aniversário!” E ainda: “58! Não é altura de arranjares um trabalho a sério? Ricky Gervais, 42, cómico”. Ele respondeu: “Eu tenho um trabalho a sério. David Bowie, deus do rock”. Esteve muito bem, não esteve?
Robert Smith
Fonte desconhecida
Entrevistador: Sei que quando eras mais novo eras um grande fã do David Bowie. Foi ele que te levou a dedicares-te à música?
Robert Smith: É óbvio que ouvia música antes de conhecer o Bowie. Tenho um irmão mais velho que me mostrava coisas do (Jimi) Hendrix e dos Cream e do Captain Beefheart, muita coisa dos anos sessenta, mas o David Bowie foi o primeiro artista que me fez sentir que me pertencia, que cantava para mim. O Ziggy Stardust foi o primeiro álbum que comprei. Então, sempre gostei tanto da forma como fazia as coisas como do que fazia. Gosto da ideia de estar no exterior e criar personagens. Olho para o que fizemos e encontro ecos de algumas coisas do Bowie. E consegui realizar o meu sonho, ele convidou-me para cantar com ele no seu aniversário…
Entrevistador: Foi em Nova Iorque…
Robert Smith: Em Nova Iorque, sim. Foi quase há dez anos. Foi fantástico. Como que irreal.
Steve Strange
Do documentário David Bowie: The Plastic Soul Review (2007)
Quando o Bowie me pediu para fazer o vídeo do Ashes to Ashes, lembro-me sempre dele a chegar ao Blitz (Blitz Club, clube londrino existente, em 1979-80, em Covent Garden, que esteve na origem do movimento neorromântico) porque vi a limusine dele a rodear a multidão, havia sempre uma multidão no exterior do Blitz, e eu perguntava-me quem poderia estar dentro da limusine. Em todo o caso, à terceira vez, a limusine parou e a assistente pessoal dele, a Coco, veio até mim e disse: “Tenho o David Bowie na limusine. Há alguma entrada que ele possa usar para entrar no clube sem que o reconheçam?” E pensei, bom, há uma porta lateral pela qual pode chegar ao andar de cima. Mas como é que o ia levar até lá sem que toda a gente no clube ficasse a saber da sua presença? Bom, levámo-lo até à porta lateral com a ajuda de alguns seguranças mas algumas das pessoas que chegavam tinham-no visto dirigir-se para a porta. Não acho que soubessem onde é que a porta lateral ia dar porque nunca era usada por ninguém. Mas a novidade de que o David Bowie lá estava espalhou-se como um incêndio e, subitamente, vi-me forçado a arranjar mais seguranças para pôr cobro… O Blitz tinha dois andares. A maioria das pessoas estava a dançar e, quando a notícia se espalhou, toda a gente queria chegar ao andar de cima, onde não iriam normalmente, era a zona do Blitz onde se podia estar em paz, longe da música, a conversar, porque era uma área muito mais calma. Também tive de lhe recusar, por duas vezes, um pedido para que me sentasse à sua mesa porque era a hora mais movimentada da noite e quando finalmente me juntei a ele fiquei absolutamente boquiaberto porque ele me disse: “Estou muito impressionado com o que tens feito e com a música que aqui passas. Estou bastante impressionado com o estilo e tenho andado a observar-te. Gostava que participasses no meu vídeo”. É óbvio que não o ia deixar perceber que eu me sentia como “O Bowie quer que eu entre no vídeo dele!” E ele continuou: “Sim, mas não te quero no vídeo, só quero que escolhas as roupas e os extras e quero saber quem é que te maquilha”. E acrescentou: “O que quer que escolhas, certifica-te de que se parece com a tua própria indumentária e tens que estar à entrada do Hilton a uma certa hora”. E foi espetacular, ele foi-nos buscar às cinco, seis da manhã, certo? Bom, como era o David Bowie, pensámos que íamos até algum local luxuoso, mas eles tinham fechado a praia de Southend durante aquele dia e a história por trás de Ashes to Ashes é bem conhecida… Havia uma escavadora que nos empurrava a todos pela praia fora. Embora eu tivesse filmado Fade to Grey, foi uma honra trabalhar para ele, trabalhar para ele e ser pago por isso. E também aprendi muito ao trabalhar com ele.
Susan Sarandon
Entrevista com Larry King para o Larry King Now da Ora.TV, 2016
Susan Sarandon: Por exemplo, quando namorava com o David Bowie, ele fumava e, então, eu também pegava num cigarro.
Larry King: Namoraste com o David Bowie?
Susan Sarandon: Sim. Portanto, acho que isso acontece se estiveres com alguém que fuma e quiseres parecer fixe ou se estiveres aborrecido num bar.
Larry King: Eu entrevistei o David. Gostei muito dele.
Susan Sarandon: Oh, sim. Ele era adorável. Adorável, adorável.
Larry King: Sabias que estava doente?
Susan Sarandon: Sim. Tive a grande sorte de o voltar a encontrar perto do fim, pelo que pude dizer e escutar tudo aquilo que queremos dizer e escutar, foi uma sorte enorme.
Larry King: Ele era um grande contador de histórias…
Susan Sarandon: Brilhante! Eu diria que era brilhante. E a Iman é tão digna e interessante e aberta como ele, pelo que a união deles era mesmo especial.
Tina Turner
Fonte desconhecida
Conheci o David há anos, talvez numa das poucas vezes em que toquei na Suíça. Fomos jantar juntos e ele começou a falar sobre tantos assuntos e eu perguntei: “Como é que podes saber de tantas coisas?” E ele respondeu: “Nunca deixo de estudar”. Isso influenciou-me porque não temos mesmo que ir à escola ou termos alguém que nos ensine, pegamos num livro, estudamos e aprendemos. Ele tem tanto conhecimento ali (aponta para a cabeça) que é mesmo como o homem que veio do espaço. Quero dizer, ele é… Não se consegue decifrá-lo, para mim ele é abstrato. Estar no palco com ele é uma energia diferente porque a energia dele é diferente. A energia do Mick (Jagger) é física e visual. O David é de aço. E grande. Compreendes? Acho que quando lhe disse: “Quero que apareças no final do meu espetáculo em Londres”. E acrescentei: “Gostaria que fizesses isto, é uma surpresa. Gostaria que subisses as escadas vindo da parte de trás e quero que te mostres e que sejas de ouro”. Era assim que o via. E, quando o fizemos, da forma como eu imaginara, toda a gente enlouqueceu, foi como um terramoto. Porque é esse poder do aço que tem, essa coisa intocável que o David tem e que não nos permite decifrá-lo. Talvez seja por isso que ele é cantor-ator-artista de palco, ele tem todos esses elementos que não conseguimos decifrar.
Tony Visconti
Para Music Moguls: Melody Makers, na BBC 4, em 22 de dezembro de 2015
O passo seguinte era fazer os coros. Eu estava na sala de controlo a fazer a minha produção e o David disse: “Entra e vem fazer os coros!” E tínhamos um excelente engenheiro de som assistente, Eduard Meyer, que ficou à frente das máquinas enquanto eu cantei os coros com o David. Portanto, podes notar que há um sotaque britânico e outro de Brooklyn nos coros e deixo à tua imaginação adivinhar quem é quem… (sorri e passa apenas as partes vocais de Heroes) Então, foi assim que tudo se desenvolveu, os coros foram a última coisa que acrescentámos à faixa.
Trent Reznor (Nine Inch Nails)
Entrevista com Jian Ghomeshi para o Studio Q
Jian Ghomeshi: Tu e eu partilhamos uma coisa, uma admiração profunda por David Bowie. Não apenas isso, mas, para mim, o seu melhor álbum é o Low e penso que concordas. Então, finais dos anos setenta, Berlim, Bowie, que, para mim, tem sido uma constante na tua música. Claro que tens sobre mim a tremenda vantagem de teres trabalhado com Bowie e de o conheceres pessoalmente, e irei sempre invejar-te por isso, mas o que é que nele foi tão inspirador para ti? E que te acordou em termos criativos?
Trent Reznor: Acho que se contextualizarmos a minha vida, cresci numa cidadezinha rural da Pensilvânia, longe da rádio que passava música negra, certamente que antes da Internet, mesmo antes da MTV, e o que me despertou enquanto crescia foi a rádio FM. E muita pop. E acho que as coisas mais exóticas eram as críticas de álbuns da Rolling Stone, foi aí que descobri os Clash e segui tudo aquilo que se passava a milhões de quilómetros de onde eu estava. Havia milhões de campos de milho e barreiras entre mim e tudo isso. Arranjei uma cópia do Village Voice quando andava no Secundário, porque me parecia uma coisa de outro universo. E vivi lá durante dezoito anos e, então, mudei-me para Cleveland. Que ficava à distância de duas horas… Mas, até essa altura, não havia muitas coisas que fazer, não havia acesso em abundância a música ao vivo ou… sabes, investia em discos e quando comprava um disco ouvia-o porque não tinha nenhum tipo de acesso ilimitado a discos. A mudança teve grande influência em quem sou atualmente porque fui ao encontro de certas coisas e aprendi algumas lições importantes. Ouvi o The Wall, dos Pink Floyd, um milhão de vezes e lia tudo o que pudesse ao ponto de detetar que havia algumas letras que não estavam no álbum mas que estavam nas notas do disco, mas esse tipo de tela em branco permitiu-me perceber o que queria ser. Chegar ao Bowie… O primeiro disco do Bowie que realmente ouvi com atenção foi o Scary Monsters, já tardiamente na carreira dele. Parecia a coisa mais estranha, fria e assustadora que… Tinha qualquer coisa de muito interessante e sedutora, mas não era algo amigável, era… Demorei algum tempo até compreender esse disco. Sabes, ainda o ouço muitas vezes.
Jian Ghomeshi: Foi em 1980, portanto, tinhas 15 anos…
Trent Reznor: Sim. Por fim, a partir daí e durante os dez anos que se seguiram, comecei a percorrer o catálogo dele para a frente e para trás até ter aterrado no período de Berlim. E então, juntamente com a mitologia que o rodeia, porque eu não estava lá, não comprei o disco quando saiu e não vi qual era a opinião do público na altura do disco, mas, para mim, foi como encontrar um artista que parece não ter apenas criado uma identidade maior do que a própria vida como também, depois, enquanto essa identidade ainda estava em crescimento, a deitou fora e criou uma nova. E a seguir, deitou fora aquele álbum e criou um novo. E, aparentemente, saltando de género em género e de estilo em estilo corajosamente, não colocando a carreira em primeiro lugar, não pensando em termos de “ei, isto teve sucesso, mais vale agarrar-me a isto”. E foi uma coisa que também aprendi depois de ter a certeza do que queria, que isto também é um negócio, sabes, também é um estilo de vida. Será que a minha vida estava melhor agora que algumas pessoas tinham comprado o meu primeiro disco e que eu podia morar num apartamento e não me preocupar com a conta do gás, o que em certa altura da minha vida tinha sido uma grande preocupação? Gosto de não me preocupar com isso. Ok. Estas pessoas gostam daquela música que escrevi… Devo satisfazê-los? Será que tenho uma obrigação para com eles ou será que deveria esquecer isso tudo e seguir o caminho que acho que o Bowie seguiu? É algo com que ainda hoje me debato.
Win Butler (Arcade Fire)
Entrevistado em novembro de 2013
Win Butler: Conhecemo-lo em 2003 ou 2004. Era o nosso primeiro espectáculo a sério como cabeças de cartaz em Nova Iorque e estavam lá ele e o David Byrne e, da vez seguinte em que tocámos em Nova Iorque, cantámos com o David Byrne e o David Bowie estava presente. Portanto, sentimo-nos muito bem acolhidos em Nova Iorque. Ele apoiou-nos muito e sentimos uma ligação em termos musicais, foi um pouco como conhecer um professor de música que sabe de tudo. Bom, ele tinha cantado muitos dos coros em discos do Lou Reed e do Iggy Pop, assim como em muitas coisas em que o seu nome não surge, e, para mim, aquilo que se revestiu de significado foi uma frase em Reflektor (primeira faixa do álbum do mesmo nome, de 2013) que sempre se destinou a ser cantada por uma terceira pessoa, já que o resto é entre mim e a Régigne (Régigne Chassagne, esposa de Win e igualmente elemento da banda) e havia uma frase, uma parte da letra, que era mesmo perfeita porque estávamos a gravar nos Electric Lady Studios, que foi onde ele gravou Fame e entrámos e ele não tinha lá estado desde… Ele disse: “A última vez em que aqui estive foi na cave, a gravar Fame com o John Lennon”. John Lennon tinha cantado os coros daquele tema e foi absolutamente fantástico tê-lo a cantar coros para nós, no nosso disco, no mesmo estúdio e vê-lo fazer uma espécie de imitação da sua voz em Fame numa das frases. Então, em termos artísticos, sentimo-nos… Acho que ele tinha essa sensação de haver uma espécie de completar de círculo e, apesar de Reflektor não ser de todo sobre Fame, acho que, filosoficamente, as canções intercomunicam.
Entrevista ao Daily Mail, 2016
Angela: Fiquei muito chocada quando soube da morte do David, não acreditei, nunca achei que morresse antes de mim. Guardo recordações dele, de todos os nossos momentos felizes, é uma coisa fantástica que acontece quando alguém morre, acho que não nos lembramos das coisas más, apenas dos bons tempos, o nascimento de Zowie, o nosso casamento, Madison Square Garden, ele a tocar… Na verdade, até Carnegie Hall, um dos primeiros grandes concertos que tivemos em Nova Iorque. Portanto, recordo apenas os tempos maravilhosos que vivemos juntos.
Não faço ideia do que é que pôs termo ao nosso casamento. Talvez ele se sentisse aborrecido e quisesse avançar. Como é que me tratou depois? Com total desdenho e desrespeito. Isso não tem nada a ver com o facto de ele ter morrido. A sua morte é que nos está a afetar e entristecer. Então, não acho que seja o momento para falar sobre a dor e a mágoa que se seguem a um divórcio. Isso é de baixo nível.
O fim do nosso casamento significou que não vi o meu filho tanto quanto gostaria. Mas é o que acontece quando não se fica com a guarda de um filho, a arma principal a usar num divórcio.
Ben Stiller e Owen Wilson
Entrevistados para a Metro em 2016
Hanna Flint: O convidado especial mais memorável no primeiro Zoolander, certamente o mais comovente neste momento, foi David Bowie. Que memórias guardam de estar no local de filmagens com David Bowie?
Owen Wilson: Lembro-me apenas de que estava excitado por saber que o ia conhecer… Acho que ele estava habituado a que as pessoas ficassem abismadas e era, simplesmente, um tipo fixe e adorável que punha as pessoas à vontade. E também tinha um grande sentido de humor. E nós perguntávamo-nos: “Porque é que ele fez isto? Porque é que ele concordou em entrar no filme?”
Ben Stiller: Vai continuar para sempre um mistério…
Owen Wilson: Sim.
Ben Stiller: Ele teve a gentileza de participar no filme e foi um dia especial, ele era um óptimo ator além de ser um génio musical, mas era realmente um bom ator e divertimo-nos, acho, e ele embarcou na nossa onda.
Brendon Urie (Panic At the Disco)
Entrevistado em 2016
Alex Gale: Ainda falamos sobre o impacto da morte de David Bowie, que nos deixou a todos destroçados. Quando eu vejo, ouço a tua música e, sem dúvida, quando falas no palco, parece-me encontrar uma grande influência do Bowie. Poderias dizer-nos o que Bowie significava para ti e o que a sua música e o seu visual te diziam?
Brendon Urie: Claro. David Bowie significava muito para mim. Desde que eu era um miúdo. E a primeira vez em que me captou a atenção, mais uma vez, foi num filme. Quando era miúdo, era muito ligado ao cinema, via muitos filmes, passava muito tempo sozinho. E, depois de ter visto o Labyrinth, queria ser o Jareth, o rei dos Goblins, queria ser ele. Era como se não existisse ninguém mais fixe, nenhum homem mais bonito, era espantoso. E quando soube que ele também cantava eu fiquei como “Quem é este tipo?” Depois, ouvir o Hunky Dory e o Space Oddity e outras coisas antigas… A primeira canção que me impressionou foi Oh! You Pretty Things. Mas, para mim, David Bowie sempre foi um símbolo de originalidade, acho que ele foi o mais único e o mais raro de nós. Tinha aquela capacidade de, a cada década, às vezes a cada meia década, reinventar o seu som, a sua aparência, a sua imagem, a si mesmo, melhorar enquanto artista… Não há muita gente que o consiga quando envelhece. Acho que há algo que se perde. Quando as pessoas envelhecem o sonho perde-se, perdemos a capacidade infantil de nos maravilharmos e, nele, isso nunca se perdeu. E ele sempre… Na verdade, o último álbum que fiz, Too Weird to Live (Too Weird to Live, Too Rare to Die, de 2013), eu queria imitar a forma como o David Bowie se mostrava nas capas e não queria esconder-me atrás de alguma outra imagem na capa, queria estar presente e usar a minha imagem no sentido mais teatral, como uma homenagem a David Bowie. Portanto, ele teve imensa influência em mim. E continuará a tê-la porque há músicas infindáveis a que posso regressar e são mesmo bonitas… Pessoalmente, adoro-as!
Brian Eno
Entrevista de 2016 para o canal britânico Channel 4 News
Krishnan Guru-Murthy: Podes falar-me sobre o David Bowie?
Brian Eno: Sabes, não nos encontrávamos assim tão frequentemente… Correspondíamo-nos por email, trocávamos piadas. Na verdade, essa era a base da nossa relação, piadas e recomendações de filmes e de livros, entre outras coisas.
Krishnan Guru-Murthy: Mesmo quando estavam a gravar discos?
Brian Eno: Quando gravávamos discos, a verdade é que passávamos o tempo a rir. Como o que fizemos foi, de certa forma, música muito séria, foi bastante surpreendente ver o que fizemos no estúdio onde, na realidade, estávamos sempre a representar. Ele era o Pete e eu o Dod. (risos)
Coldplay
Johnny Buckland e Will Champion ao NME, em 2016
Johnny Buckland: Senti-me incrivelmente triste quando soube que David Bowie tinha morrido. Todos adoramos a música dele desde que começámos a ouvir música.
Will Champion: Quando estamos, de algum modo, envolvidos na música, ele é… Era um dos pontos de referência para absolutamente tudo. Para os géneros musicais e para como ser uma estrela do rock ou da pop, fosse o que fosse, definia tudo. Então, para músicos, como nós, acho que é muito desorientador. Mas, de manhã, quando li sobre a morte dele, mandei uma mensagem ao Brian Eno e disse-lhe que todos tínhamos perdido um herói da música, mas que ele, obviamente, tinha perdido um amigo querido. O seu desaparecimento súbito e a sua morte foi tão tipicamente enigmática e o Brian nem sabia de nada… Nem sequer fazia ideia de que ele estivesse doente. É extraordinário. E ele tinha-lhe enviado um email há apenas uns dias, uma semana. É extraordinário como ele conseguiu… mesmo a sua morte triste e fora de tempo foi uma obra de arte, sabes… É espantoso. Acho que o Chris (Chris Martin, vocalista dos Coldplay) certa vez lhe apresentou uma canção e pediu “Poderias, por favor, cantar nesta canção porque tem esta parte?” Tinha três partes. E tínhamos uma personagem do tipo David Bowie. E acho que o Chris lhe mandou mesmo uma carta a pedir: “Por favor, canta neste tema”. E ele respondeu: “A canção não é muito boa, pois não?” E nós respondemos: “Ok. Supomos que seja um não”. Quer dizer que ele era muito perspicaz, não emprestava o seu nome a qualquer coisa. Reconheço-lhe esse mérito.
Dave Grohl
Fonte desconhecida
Dave Grohl: Lembro-me de os Foo Fighters terem aparecido num festival com o Bowie, há coisa de 13 anos, na Suíça. Havia lá umas trinta mil pessoas e eu estava aterrorizado… A banda não teria mais do que ano e meio. E subi ao palco, tocámos e o público estava como que… (bate palmas calmamente) “ok, é fixe”. Mas eu pensava “O que é que estou a fazer? Nem sequer sou um cabeça de banda!” E, então, apareceu o Bowie, começou a atuar no palco e o público inteiro enlouqueceu! Ele levanta um dedo e o público desmaia. E eu: “Como diabo é que ele fez aquilo?”
Denis Leary
Entrevistado no Jimmy Kimmel Live
Jimmy Kimmel: Qual é a tua banda preferida de sempre?
Denis Leary: À vontade, os Rolling Stones. Rolling Stones, The Who, David Bowie.
Jimmy Kimmel: Conheceste alguns deles?
Denis Leary: Conheci o Mick Jagger e os tipos dos The Who. Mas David Bowie, não sei porquê, mas para mim ele é como um deus. E conheci-o quando estava começar a ser conhecido, estava a gravar uma coisa para a televisão e tínhamos que ir ao exterior fumar. Então, fui ao beco, fumar junto à porta do palco…
Jimmy Kimmel: És fumador? (o público ri) Desculpa!
Denis Leary: (risos) Bom, ele fumava e era o músico convidado. Eu estava lá fora e, de repente, o David Bowie aparece e diz: “Tens um cigarro?” E eu nem conseguia falar. Então, dei-lhe um cigarro e disse: “Como estás?” E ele: “Ei, então, como é que é o Bobcat Goldthwait (ator, comediante, roteirista e realizador norte-americano)?” E eu a estranhar: “Como é que é o Bobcat Goldthwait?” E ele diz: “Sim, é estranho, é estranho?” E eu: “Sim, um bocadinho, mas menos do que a personagem que representa”. “E o Steven Wright (ator, comediante, escritor e produtor norte-americano)? Como é que é? É estranho?” E eu: “Sim, realmente é estranho”. E lá estava eu a pensar “isto é bom” porque vou ter uma conversa com o Bowie. E ele pergunta: “Bom, e o Bobcat usa mesmo aquelas roupas?” E eu a pensar: que é que se passa? Isto é de doidos! E então chamaram-no para dentro, nunca mais falei com ele, nunca mais o vi. Juro. Portanto, a minha conversa com Bowie foi sobre o Bobcat e o Steven Wright.
Jimmy Kimmel: o Bobcat vai adorar esta história!
Denis Leary: Já a ouviu. O meu receio é que da próxima vez em que encontre o Bowie, ele me pergunte: “Ei, como é que está o Bobcat? O Steven Wright continua estranho? Que é que está a acontecer?”
Jimmy Kimmel: Ouvi dizer que tem um bom sentido de humor e provavelmente vai mesmo fazê-lo.
Denis Leary: Sim, ao que parece é fã de comédias.
Earl Slick
Fonte desconhecida
Entrevistador: Qual considerarias ter sido verdadeiramente a tua primeira grande oportunidade?
Earl Slick: Houve uma grande oportunidade e seguiu-se-lhe uma enorme oportunidade. A primeira foi ter sido apresentado a um homem chamado Michael Kamen, que mais tarde se tornou um grande compositor de trilhas sonoras para filmes. Ele tinha conhecido o David Bowie em 1974, mesmo depois do Mick Ronson ter saído da banda. E eu tinha feito alguns trabalhos para o Michael, como tocar a guitarra na banda dele em pequenas tours que organizava. E foi ele que me apresentou a Bowie, o que precipitou a audição que acabei por fazer para ele.
Entrevistador: Obviamente, essa relação cresceu e deu óptimos frutos durante alguns anos.
Earl Slick: Sabes, com o David Bowie tem sido uma coisa intermitente, desde 1974 até à última tournée de há dois anos. Com alguns espaços em branco, com cada um de nós em sítios diferentes ou eu ocupado com outra coisa ou ele a decidir que queria uma banda diferente, mas, regra geral, acabei por regressar. Há trinta anos que tenho andado dentro e fora da banda. Muito tempo.
Entrevistador: De cada vez que voltas a tocar com ele é como voltar a vestir uma velha peça de vestuário confortável?
Earl Slick: Sem dúvida. Quando se faz uma coisa com alguém assim um número suficiente de vezes, sabemos porque é que lá estamos, ele sabe porque nos quer lá e torna-se canja. Mesmo fácil.
Entrevistador: Ambos conhecem as potencialidades do outro e o que o outro pretende?
Earl Slick: Sabes, quando o David forma uma banda, fá-lo com base em certas personalidades e certos pontos de vista artísticos e certas formas de tocar que encaixam como um puzzle. Se pensares bem, a maioria dos elementos numa banda do Bowie, a maioria não, todos os que conheço, são igualmente artistas de pleno direito. Sabes, eu tenho uma tarefa específica, o Gerry Leonard, o outro guitarrista, tem a sua própria função e sabemos do que se trata. Quero dizer, há tanto tempo que toco intermitentemente com o David que simplesmente… Sei porque é que lá estou. E isso torna tudo muito mais fácil.
(…)
Entrevistador: O teu concerto preferido de sempre?
Earl Slick: O melhor de tudo foi a tour do David Bowie. Escolhe qualquer uma!
Entrevistador: Todas as noites?
Earl Slick: Todas as noites. Sim.
Elton John
Entrevistado para a SiriusXM em 2016
David Fricke: Acabámos de perder David Bowie. Consegues descrever o impacto que ele teve em ti enquanto artista e como músico?
Elton John: Bom, se não tivesse sido o David Bowie, nunca teria encontrado o meu primeiro produtor, Gus Dudgeon, e o Paul Buckmaster, que fizeram os arranjos dos meus três primeiros álbuns. Porque quando ouvi o Space Oddity achei que era o disco mais incrível que alguma vez ouvira. E a produção e os arranjos dessa canção, eu disse: “Quem quer que tenha feito isso, quero mesmo trabalhar com ele”. Então, contactei o Gus Dudgeon e o Paul Buckmaster e fizemos juntos o álbum Elton John, assim como muitos mais. Tenho que agradecer ao David por isso, sabes, o que posso…? Disse-se e escreveu-se tanto sobre ele durante os últimos dias… Acabei de o dizer ao David (David Furnish, o marido de Elton John)… Todos sabemos como ele era inspirador, todos sabemos o que representa a sua música, não temos que comentar a música dele, ela fala por si. Ele foi inovador, mudou as perceções e só fez o que quis, o que é raro em qualquer artista. Mas o que eu mesmo gostei na parte final da sua vida foi a sua incrível privacidade durante o que devem ter sido dez anos de azares com doenças, ataques cardíacos, cancro… Ele manteve tudo isso privado numa época em que toda a gente sabe de tudo, tudo privado, e fez dois álbuns sem que ninguém soubesse que os estava a fazer. Obviamente, recebeu tratamento para as suas doenças sem que ninguém soubesse ou dissesse… E essa é a mística do homem porque conhecemos David Bowie enquanto figura, cantor, artista ultrajante… Na verdade, não sabemos nada sobre ele e é assim que deveria ser na música e em qualquer outra forma de arte. E a dignidade, como que planeou a sua morte, há um tema no álbum chamado Lazarus e é óbvio que compôs essa canção sobre a sua própria morte. E há um musical off-Broadway em que o Michael C. Hall a canta e é mesmo de arrepiar quando se ouve. Para mim, isso é um verdadeiro artista. Já não há ninguém como ele, perdemos um talento imenso que influenciou muita gente… Influenciou-me com o seu sentido de humor e o primeiro espetáculo em que o vi foi no Finsbury Park Astoria, em Londres. Eu e o Bernie (Taupin) fomos vê-lo… Os Roxy Music eram a banda de suporte, ele tinha o cabelo comprido, baton, verniz nas unhas, dá para ver há quanto tempo foi, e o David tocou o Ziggy Stardust. Fantástico! Insubstituível.
Freddie Mercury
Fonte desconhecida
Antes de mais, eu não sonho com o David Bowie! Simplesmente… Sonho, intelectualmente, em escrever uma canção com ele, mas está para lá das minhas capacidades. O que se passa é que éramos amigos e, por vezes, quando artistas diferentes se encontram na altura certa e se as personalidades se dão, isso é mais importante do que qualquer outra coisa.
Iggy Pop
Entrevista com Dave Kendall no programa 120 minutes da MTV, em julho de 1990. Difundido em janeiro de 1991
Dave Kendall: O teu primeiro álbum a solo foi The Idiot. Que papel desempenhou David Bowie na tua emergência enquanto artista a solo?
Iggy Pop: Bom, deixa-me colocar a questão assim… Antes de ter feito esse álbum eu era basicamente, era uma pessoa da rua, basicamente em Los Angeles, e tinha sido mais ou menos bloqueado por todos no negócio da música e por um manager verdadeiramente desastroso em geral e por problemas com drogas e com álcool e farras, sabes… Então, na altura eu podia ter reunido algum tipo de banda de rock de êxitos, alguma coisa glam, alguma coisa sem gosto, e, no momento exato, ele sugeriu-me duas coisas: sair de Los Angeles, o que era ótimo, e fazer um álbum em conjunto, o que era uma boa ideia porque ele era mesmo… Ele era suficientemente louco para experimentar o que quer que fosse e em qualquer momento, seria capaz de fazer tudo o que precisasse para realizar um trabalho realmente bom, é um indivíduo muito estimulante artisticamente e o seu álbum, o álbum dele que saiu na altura chamava-se Station to Station, é um álbum fantástico, um álbum mesmo bom… Então, sim, foi muito instrumental nisso, acho que se não tivesse aparecido com aquela proposta talvez eu não estivesse agora a falar contigo.
Dave Kendall: É verdade?
Iggy Pop: Bom, sim, estaria a tocar em algum lado, provavelmente na 42nd Street ou algo assim, sabes, algo assim. Portanto, foi um golpe de sorte.
Iman
Entrevistada em Fashion Icons, 2015
Iman: Eu sempre afirmei não estar casada com David Bowie, estou casada com David Jones. Há uma grande diferença. Não temos imagens nossas em casa de coisas que tenhamos feito, a nossa casa é mesmo a nossa casa. Nunca recebi jornalistas no meu apartamento. É um sítio onde não entram. E, assim, vê-se a diferença entre uma pessoa e uma personalidade. É completamente distinto.
Jennifer Connelly
Entrevistada para o Entertainment Tonight, 2015
Entrevistadora: De que te lembras mais deste filme que acabou por se tornar icónico?
Jennifer Connelly: Foi uma experiência avassaladora. Trabalhar nesse filme, para mim, foi como estar no país das maravilhas. Eu devia ter uns 14 anos e filmámos em Inglaterra, os locais de filmagem eram enormes, maravilhosamente desenhados e cheios de bonecos. Para uma miúda, era mágico. A equipa era extremamente simpática e eu adorava o Jim Henson e o David Bowie foi tão meigo e foi ótimo, foi maravilhoso fazê-lo. Provavelmente melhor do que ver o filme, fazê-lo foi uma experiência muito especial.
Entrevistadora: Eras muito jovem. Lembras-te de Bowie?
Jennifer Connelly: Sim. Era muito, muito simpático, muito caloroso, era adorável. Tanto quanto me lembro, era um tipo simpático que brincava e se mostrava amigável com a equipa.
John Cale
Entrevista com o canal britânico Channel 4 News em 6 de fevereiro de 2016
Matt Frei: Gostaria de falar acerca de alguém de quem todos falámos recentemente, David Bowie. Como te sentiste quando recebeste a notícia?
John Cale: Não conseguia acreditar. Foi muito triste. Mas, depois, assisti a alguns dos vídeos que ele tinha feito e era muito franco, decididamente direto. Achei que ele tinha sido mesmo duro. E foi desconfortável.
Matt Frei: De que te recordas dele em Nova Iorque?
John Cale: Oh, íamos muito ao Mudd Club (clube nova-iorquino aberto entre 1978 e 1983 que albergou grande parte da contracultura da época). Basicamente a beber bastante e a perseguir as raparigas… Divertimo-nos muito.
Matt Frei: Ele veio para Nova Iorque por causa de gente como tu, porque vieste antes, no início dos anos sessenta para trabalhar com os Velvet Underground…
John Cale: Sim, acho que sim. Ensinei-lhe a tocar viola de arco.
Matt Frei: Ensinaste-lhe a tocar viola de arco?
John Cale: Ensinei. Demos um concerto no Town Hall para a Tibet Society. Eu ia tocar um tema chamado Sabotage (faixa do álbum ao vivo Sabotage/Live, gravado no CBGB, em Nova Iorque, a 16 de junho de 1979). E ele também lá estava. E perguntei: “Não queres tocar a viola de arco?” Mostrei-lhe como se fazia e ele subiu ao palco e tocou-a do início ao fim da canção. Quero dizer, foi ótimo.
Matt Frei: Simplesmente agarrou o tema?
John Cale: Sim, estava pronto para tudo. Era muito bom.
Lou Reed
Fonte desconhecida
O Satellite (Satellite of Love, do album Transformer, de 1972, produzido por David Bowie e Mick Ronson) é o David! O David é fantástico em coros! Bang-bang-bang, tudo bem, está ótimo, mas realmente fantástica é a nota aguda no final. Quero dizer, muito pouca gente o conseguiria fazer, adorei quando ele o fez, que movimentação! Repara, eu acho que tudo tem a ver com os detalhes e esse foi o ponto de exclamação. Eu acho que quando ele sobe assim muito pouca gente o conseguiria igualar. Verdadeiramente puro e bonito.
Mike Garson
Fonte desconhecida
Houve três elementos que eu trouxe à música de Bowie… Um deles foi o aspeto vanguardista em que toco furiosamente, outro um certo aspeto romântico e muito clássico e, por fim, o tipo de vanguarda em passos largos que uso em Time. Fui contratado por apenas oito semanas em 1972 e acabei por ser o membro da sua banda que mais tempo se manteve. E tinha a capacidade, digamos, de imitar ou duplicar o que quer que fosse que ouvisse. A verdade é que o difícil foi desaprender isso para poder criar a minha própria música. Sabes, não tenho fronteiras musicais. A música é sempre afetada pelo que me rodeia, os meus sons… Simplesmente ouço música. As pessoas ouvem tipos de música. Eu não. Ouço apenas música.
Moby
Entrevista com Larry King para o Larry King Now da Ora.TV, 2016
Larry King: Afirmaste, numa entrevista do ano passado, que a obra de arte que mais gostarias de ter criado era o Heroes, do David Bowie. Também andaste em tour com ele. Ele era impecável. Sensível. Inteligente.
Moby: Uma das pessoas mais desconcertantemente inteligentes que alguma vez conheci. E, antes de tudo, sempre que… Ele morava em frente a mim em Nova Iorque, eu morei na Mott Street durante mais de vinte anos e ele vivia mesmo em frente, na Lafayette e Mulberry, pelo que podíamos cumprimentar-nos dos nossos telhados e fazíamos churrascos juntos, íamos tomar café juntos, encontrava-o na mercearia local em Prince Street e tornámo-nos muito próximos. Mas, durante todo o tempo, sempre que saíamos, estava sempre consciente do facto de que ele era o meu músico preferido de todos os tempos e que, para mim, ele era como que uma espécie de híbrido entre um semideus e a realeza.
Larry King: Então, sentias-te privilegiado por estares com ele?
Moby: Privilegiado e incrivelmente intimidado.
Nile Rodgers
Entrevistado para o Gigwise em fevereiro de 2016
Creio que as pessoas pensarão no David Bowie da mesma forma como se pensa nos grandes mestres de outros géneros musicais. Sabes, na música pop não parecem tratar-nos do mesmo modo, não nos tratam como se trata Bartok ou Prokofiev ou Brahms ou Mozart… Penso que Bowie será recordado como se recorda o Miles (Davies) e o (John) Coltrane, só que neste campo específico da música pop. Ele foi um verdadeiro inovador. Quero dizer, não criava simplesmente música. Criava ideias e ideias incríveis. E acho que o mundo vai reconhecer isso mesmo. Infelizmente, o que sucede é que a maioria dos compositores se torna mais famosa depois de partir porque se compreende como eram brilhantes e deseja-se que ainda estivessem connosco. Quando conheci Bowie ele não foi nada teatral, tinha o aspeto de um homem de negócios e foi no início dos anos oitenta, havia toda a cena dos clubes e todos estávamos numa onda estranha, hip-hop, os rapazes usavam caudas de raposa e tudo o mais e o David era o tipo sentado naquele clube noturno, com um fato, a beber um copo de sumo de laranja. Ele era o tipo que parecia deslocado. Reparei nele imediatamente e começámos a falar e, instantaneamente, a conversa passou dos nossos amigos mais chegados para músicos e compositores de heavy jazz. E acabámos por ficar na conversa toda a noite e, em apenas alguns dias, ele tinha decidido que me queria encontrar novamente e, em apenas algumas semanas, estávamos na Suíça a gravar a primeira demo. Contextualizemos tudo isto… Na altura em que fiz o Let’s Dance as pessoas não me consideravam propriamente fixe porque foi depois da cena do “disco sound não presta”. O único disco número um que tive depois disso, não o digo de forma narcisista, mas o meu primeiro disco foi importante, assim como todos os discos que fiz até ao “disco sound não presta”… Em 1979, tinha dois discos em número um nas tabelas da Billboard. E então, depois da Diana Ross, em 1980, não tive qualquer sucesso até ter conhecido o David. Para mim, foi estranho ter passado de uma posição em que todos os meus discos eram sucessos para simplesmente não obter qualquer reconhecimento. Então, basicamente o David salvou um homem que se estava a afogar. E o mais estranho é que ele nem sequer tinha um contrato discográfico. Tinha sido abandonado, eu tinha sido abandonado e tivemos que pensar no que iríamos fazer juntos. O facto de ele ter confiado em mim numa altura em que a maioria das pessoas nem sequer atendiam os meus telefonemas foi o máximo. E alguém da estatura dele! Porque eu sabia que só o facto de trabalhar com ele, mesmo que falhássemos, melhoraria a forma como as pessoas pensavam em mim no negócio da música.
Peter Frampton
Entrevistado no CBS Sunday Morning em fevereiro de 2012
Peter Frampton: Nessa altura, ele reapresentou-me como guitarrista.
Anthony Mason: Que era o que querias?
Peter Frampton: Sim. A carreira de uma estrela da pop dura 18 meses. A carreira de um músico dura a vida inteira. E foi isso que aprendi.
Reeves Gabrels
Entrevistado para a Guitar Shop TV em 2012
Reeves Gabrels: O interessante é que o facto de o ter conhecido como civil, não como músico, talvez seja a razão por que trabalhámos juntos durante quinze anos. Eu não fui um tipo qualquer que ele tenha contratado e a quem tenha dito: “Sim, acho que isto precisa de uma estrutura do género de um catedral gótica ou o solo tem que se aproximar de Jackson Pollock”. Eu podia pegar no conceito, mesmo se a minha interpretação do conceito era diferente, poderia regressar com uma explicação racional dessa técnica de splatter (técnica de pintura usada por Jackson Pollock, aqui adaptada à música) e trabalhámos muito dessa forma e, além disso, quando não estávamos em público ele lembrava-me de todos os tipos com quem costumava conviver, especialmente um dos meus colegas de quarto. E tinha uma espécie de característica de irmão mais velho, sendo que era 10 ou 11 anos mais velho do que eu, falava muito comigo sobre a indústria e a forma como as coisas funcionavam e acho que o que eu lhe trouxe foi o facto de que se não me sentisse bem a fazer uma coisa, simplesmente não a fazia, não estava disposto a fazer quaisquer concessões ao comercialismo. E quando descobri que o contrato dele lhe dava controlo criativo, a única questão passou a ser se ia fazer coisas como Never Let Me Down e Tonight, esses álbuns que eu não achava que tinham saído muito bem, a escolha era apenas dele. Um dia, disse-lhe: “Tudo o que tens que fazer, se queres fazer uma coisa que seja…” – aquilo em que nos tornámos – “…agressiva e se for a música de que gostas, quando ouves coisas nesse estilo, a única questão é que tens escolher. Porque a companhia de discos vai-te publicar e o teu ego tem que estar pronto a aceitar que não te passem nas rádios de música pop, mas se não gostas de música pop, então vamos tocar rock!” E foi o que fizemos. Sem dúvida que nós… Foi polarizador… A música dos Tin Machine foi polarizadora de modo positivo.
Brian Lippey: Mas isso foi um verdadeiro ponto de partida!
Reeves Gabrels: Sim. Se olharmos para os 25 anos da carreira anterior do David, conseguimos ver de onde tudo isso vem. E as coisas que acabámos por fazer mais tarde, como por exemplo, o álbum Earthling é um dos meus preferidos, era como um encontro entre o drum and bass electronica e uma banda de rock. E era algo que podíamos prever e, na verdade, o meu modelo para o Earthling foi, basicamente, o Who’s Next (ábum dos The Who, de 1971). Porque é o protótipo das bandas de rock a usarem a eletrónica. O nosso melhor trabalho foi aquele em que fizemos coisas que não se podiam ouvir em mais lado nenhum.
Rick Wakeman
Entrevistado para o programa This Morning, do canal britânico ITV, em 2016
Philip Schofield: A história tem a ver com o mellotron. Em 1968, eras a única pessoa capaz de o tocar. O produtor de Space Oddity soube que eras o único a tocar esse instrumento.
Rick Wakeman: Havia mais algumas pessoas capazes de o tocar mas eram… é muito difícil manter as máquinas afinadas. Eu conseguia mantê-lo afinado, pelo que me contrataram para a sessão. E foi a primeira vez com o David, foi assim que nos tornámos amigos e que eu fiz muito mais coisas com ele. Pensa-se muitas vezes que o mellotron tem aquele sonzinho engraçado no meio que é “brl-ll-ll”. A verdade é que isso é um stylophone. E David ia a caminho do estúdio em Wardour Street, onde estávamos a fazer a gravação, e havia uma lojazinha onde estavam a lançar o stylophone e ele entrou e comprou um por uma libra. Chegou e o Tony Visconti disse-lhe que não ia poder incluí-lo no disco. E ele disse: “Mas vou”. E incluiu-o.
Philip Schofield: Pagaram-te nove libras por essa sessão.
Rick Wakeman: Sim, pois foi. Era o preço da sessão na época, nove libras.
Philip Schofield: Como era trabalhar com ele enquanto músico?
Rick Wakeman: Era a pessoa mais influente de sempre, portanto trabalhei muito com ele depois. Toquei noutras faixas, como o Wild Eyed Boy From Freecloud e o Memory of a Free Festival, depois toquei no Hunky Dory e, mais tarde, no Absolute Beginners, que foi muito divertido e ent… Fomos vizinhos durante quatro anos e meio, na Suíça. Encontrávamo-nos muitas vezes. Mas era um homem extremamente capaz para trabalhar no estúdio. Absolutamente brilhante. Aprendi muito com ele e com o seu produtor, o Tony Visconti, provavelmente mais do que com qualquer outra pessoa.
Philip Schofield: Mas tiveste a oportunidade disso porque, ironicamente, no mesmo dia em que te convidaram para te juntares aos Spiders From Mars também foste convidado para integrares os Yes…
Rick Wakeman: Foi bizarro, foi no mesmo dia. Tinha estado de manhã com os Yes para um ensaio, eles disseram-me “Junta-te à banda” e depois, à noite, o David tinha-me convidado para um encontro no Hampstead Country Club com o Mick Ronson. E disse-me: “Estou a formar uma banda, os Spiders from Mars. Quero que o faças comigo”. Eu respondi: “Oh, acabam de me convidar para os Yes…” E ele: “Que é que vais fazer? Bom, pensa nisso…” Ele era mesmo um tipo genuinamente simpático. Era um fazedor, não um pensador. Detestava quando as pessoas diziam “Eu podia ter…” As pessoas diziam: “Oh, eu podia ter feito isso!” Ele detestava isso. Quero dizer, se ele quisesse descer a rua principal vestido com um roupão de mulher, fá-lo-ia! Certo dia, na Suíça, disse-me: “Não tenho a certeza de que o capitalismo seja a resposta, portanto vou viver uns tempos em Berlim Leste”. E foi mesmo viver em Berlim Leste para ver como era. Lembro-me de quando finalmente regressou, alguns meses mais tarde, encontrei-o num pequeno clube, o Museum Club, em Montreux, e perguntei: “Bom, que tal foi por lá?” Ele respondeu: Também não funciona”. Mas, pelo menos, foi lá e experimentou!
Ricky Gervais
Fonte desconhecida
Convidam-nos para tantas coisas… Queres ir a isto? Não. Queres ir…? Não. Queres…? Não. Vamos ter uma noite de talentos na BBC! Não. Bom, mas chegou uma, era um concerto VIP com o David Bowie. Ora, há uns bons trinta anos que o Bowie era o meu herói. Então, fomos, eu e uma namorada, e foi fantástico. No fim, fomos para a sala verde (sala, num teatro ou num estúdio, onde os artistas podem relaxar quando não estão a atuar) e éramos muito poucos. E o Greg Dyke, que estava à frente da BBC na altura, aproximou-se e perguntou: “És fã?” “Adoro o Bowie” “Anda conhecê-lo!” E eu: “Não, não, não, não”. E ele insistiu: “Anda conhecê-lo!” Quando eu ia ter com o Bowie, ele exclamou: “Salman!” Era o Salman Rushdie, que se juntou a nós. Assim, lá estava eu, o Greg Dyke, a namorada, o Salman Rushdie e íamos ter com o David Bowie. De loucos! Mais tarde, estava no pub com o meu amigo Johnny e ele perguntou: “Que é que fizeste ontem à noite?” E eu disse: (numa voz baixa e abafada) “Nada”. Que é que lhe ia dizer? Que estava conviver com o Salman Rushdie e o David Bowie… “Que é que fizeste?” E eu simplesmente não disse nada. Além do mais, não acho que ele soubesse quem eu era na altura. Acho que alguém lhe disse depois e deram-lhe um DVD de A Empresa (The Office, série televisiva com Ricky Gervais, que passou entre 2001 e 2003). E, assim do nada, recebi um email dele. Ele parece o FBI, arranjou o meu email, está ligado em permanência à World Wide Web! E ele escreveu simplesmente: “Já vi. Já me ri. O que é que faço agora?” E tornámo-nos correspondentes. E lembro-me de que lhe enviei um email para o seu 57º ou 58º aniversário e que escrevi: “Feliz aniversário!” E ainda: “58! Não é altura de arranjares um trabalho a sério? Ricky Gervais, 42, cómico”. Ele respondeu: “Eu tenho um trabalho a sério. David Bowie, deus do rock”. Esteve muito bem, não esteve?
Robert Smith
Fonte desconhecida
Entrevistador: Sei que quando eras mais novo eras um grande fã do David Bowie. Foi ele que te levou a dedicares-te à música?
Robert Smith: É óbvio que ouvia música antes de conhecer o Bowie. Tenho um irmão mais velho que me mostrava coisas do (Jimi) Hendrix e dos Cream e do Captain Beefheart, muita coisa dos anos sessenta, mas o David Bowie foi o primeiro artista que me fez sentir que me pertencia, que cantava para mim. O Ziggy Stardust foi o primeiro álbum que comprei. Então, sempre gostei tanto da forma como fazia as coisas como do que fazia. Gosto da ideia de estar no exterior e criar personagens. Olho para o que fizemos e encontro ecos de algumas coisas do Bowie. E consegui realizar o meu sonho, ele convidou-me para cantar com ele no seu aniversário…
Entrevistador: Foi em Nova Iorque…
Robert Smith: Em Nova Iorque, sim. Foi quase há dez anos. Foi fantástico. Como que irreal.
Steve Strange
Do documentário David Bowie: The Plastic Soul Review (2007)
Quando o Bowie me pediu para fazer o vídeo do Ashes to Ashes, lembro-me sempre dele a chegar ao Blitz (Blitz Club, clube londrino existente, em 1979-80, em Covent Garden, que esteve na origem do movimento neorromântico) porque vi a limusine dele a rodear a multidão, havia sempre uma multidão no exterior do Blitz, e eu perguntava-me quem poderia estar dentro da limusine. Em todo o caso, à terceira vez, a limusine parou e a assistente pessoal dele, a Coco, veio até mim e disse: “Tenho o David Bowie na limusine. Há alguma entrada que ele possa usar para entrar no clube sem que o reconheçam?” E pensei, bom, há uma porta lateral pela qual pode chegar ao andar de cima. Mas como é que o ia levar até lá sem que toda a gente no clube ficasse a saber da sua presença? Bom, levámo-lo até à porta lateral com a ajuda de alguns seguranças mas algumas das pessoas que chegavam tinham-no visto dirigir-se para a porta. Não acho que soubessem onde é que a porta lateral ia dar porque nunca era usada por ninguém. Mas a novidade de que o David Bowie lá estava espalhou-se como um incêndio e, subitamente, vi-me forçado a arranjar mais seguranças para pôr cobro… O Blitz tinha dois andares. A maioria das pessoas estava a dançar e, quando a notícia se espalhou, toda a gente queria chegar ao andar de cima, onde não iriam normalmente, era a zona do Blitz onde se podia estar em paz, longe da música, a conversar, porque era uma área muito mais calma. Também tive de lhe recusar, por duas vezes, um pedido para que me sentasse à sua mesa porque era a hora mais movimentada da noite e quando finalmente me juntei a ele fiquei absolutamente boquiaberto porque ele me disse: “Estou muito impressionado com o que tens feito e com a música que aqui passas. Estou bastante impressionado com o estilo e tenho andado a observar-te. Gostava que participasses no meu vídeo”. É óbvio que não o ia deixar perceber que eu me sentia como “O Bowie quer que eu entre no vídeo dele!” E ele continuou: “Sim, mas não te quero no vídeo, só quero que escolhas as roupas e os extras e quero saber quem é que te maquilha”. E acrescentou: “O que quer que escolhas, certifica-te de que se parece com a tua própria indumentária e tens que estar à entrada do Hilton a uma certa hora”. E foi espetacular, ele foi-nos buscar às cinco, seis da manhã, certo? Bom, como era o David Bowie, pensámos que íamos até algum local luxuoso, mas eles tinham fechado a praia de Southend durante aquele dia e a história por trás de Ashes to Ashes é bem conhecida… Havia uma escavadora que nos empurrava a todos pela praia fora. Embora eu tivesse filmado Fade to Grey, foi uma honra trabalhar para ele, trabalhar para ele e ser pago por isso. E também aprendi muito ao trabalhar com ele.
Susan Sarandon
Entrevista com Larry King para o Larry King Now da Ora.TV, 2016
Susan Sarandon: Por exemplo, quando namorava com o David Bowie, ele fumava e, então, eu também pegava num cigarro.
Larry King: Namoraste com o David Bowie?
Susan Sarandon: Sim. Portanto, acho que isso acontece se estiveres com alguém que fuma e quiseres parecer fixe ou se estiveres aborrecido num bar.
Larry King: Eu entrevistei o David. Gostei muito dele.
Susan Sarandon: Oh, sim. Ele era adorável. Adorável, adorável.
Larry King: Sabias que estava doente?
Susan Sarandon: Sim. Tive a grande sorte de o voltar a encontrar perto do fim, pelo que pude dizer e escutar tudo aquilo que queremos dizer e escutar, foi uma sorte enorme.
Larry King: Ele era um grande contador de histórias…
Susan Sarandon: Brilhante! Eu diria que era brilhante. E a Iman é tão digna e interessante e aberta como ele, pelo que a união deles era mesmo especial.
Tina Turner
Fonte desconhecida
Conheci o David há anos, talvez numa das poucas vezes em que toquei na Suíça. Fomos jantar juntos e ele começou a falar sobre tantos assuntos e eu perguntei: “Como é que podes saber de tantas coisas?” E ele respondeu: “Nunca deixo de estudar”. Isso influenciou-me porque não temos mesmo que ir à escola ou termos alguém que nos ensine, pegamos num livro, estudamos e aprendemos. Ele tem tanto conhecimento ali (aponta para a cabeça) que é mesmo como o homem que veio do espaço. Quero dizer, ele é… Não se consegue decifrá-lo, para mim ele é abstrato. Estar no palco com ele é uma energia diferente porque a energia dele é diferente. A energia do Mick (Jagger) é física e visual. O David é de aço. E grande. Compreendes? Acho que quando lhe disse: “Quero que apareças no final do meu espetáculo em Londres”. E acrescentei: “Gostaria que fizesses isto, é uma surpresa. Gostaria que subisses as escadas vindo da parte de trás e quero que te mostres e que sejas de ouro”. Era assim que o via. E, quando o fizemos, da forma como eu imaginara, toda a gente enlouqueceu, foi como um terramoto. Porque é esse poder do aço que tem, essa coisa intocável que o David tem e que não nos permite decifrá-lo. Talvez seja por isso que ele é cantor-ator-artista de palco, ele tem todos esses elementos que não conseguimos decifrar.
Tony Visconti
Para Music Moguls: Melody Makers, na BBC 4, em 22 de dezembro de 2015
O passo seguinte era fazer os coros. Eu estava na sala de controlo a fazer a minha produção e o David disse: “Entra e vem fazer os coros!” E tínhamos um excelente engenheiro de som assistente, Eduard Meyer, que ficou à frente das máquinas enquanto eu cantei os coros com o David. Portanto, podes notar que há um sotaque britânico e outro de Brooklyn nos coros e deixo à tua imaginação adivinhar quem é quem… (sorri e passa apenas as partes vocais de Heroes) Então, foi assim que tudo se desenvolveu, os coros foram a última coisa que acrescentámos à faixa.
Trent Reznor (Nine Inch Nails)
Entrevista com Jian Ghomeshi para o Studio Q
Jian Ghomeshi: Tu e eu partilhamos uma coisa, uma admiração profunda por David Bowie. Não apenas isso, mas, para mim, o seu melhor álbum é o Low e penso que concordas. Então, finais dos anos setenta, Berlim, Bowie, que, para mim, tem sido uma constante na tua música. Claro que tens sobre mim a tremenda vantagem de teres trabalhado com Bowie e de o conheceres pessoalmente, e irei sempre invejar-te por isso, mas o que é que nele foi tão inspirador para ti? E que te acordou em termos criativos?
Trent Reznor: Acho que se contextualizarmos a minha vida, cresci numa cidadezinha rural da Pensilvânia, longe da rádio que passava música negra, certamente que antes da Internet, mesmo antes da MTV, e o que me despertou enquanto crescia foi a rádio FM. E muita pop. E acho que as coisas mais exóticas eram as críticas de álbuns da Rolling Stone, foi aí que descobri os Clash e segui tudo aquilo que se passava a milhões de quilómetros de onde eu estava. Havia milhões de campos de milho e barreiras entre mim e tudo isso. Arranjei uma cópia do Village Voice quando andava no Secundário, porque me parecia uma coisa de outro universo. E vivi lá durante dezoito anos e, então, mudei-me para Cleveland. Que ficava à distância de duas horas… Mas, até essa altura, não havia muitas coisas que fazer, não havia acesso em abundância a música ao vivo ou… sabes, investia em discos e quando comprava um disco ouvia-o porque não tinha nenhum tipo de acesso ilimitado a discos. A mudança teve grande influência em quem sou atualmente porque fui ao encontro de certas coisas e aprendi algumas lições importantes. Ouvi o The Wall, dos Pink Floyd, um milhão de vezes e lia tudo o que pudesse ao ponto de detetar que havia algumas letras que não estavam no álbum mas que estavam nas notas do disco, mas esse tipo de tela em branco permitiu-me perceber o que queria ser. Chegar ao Bowie… O primeiro disco do Bowie que realmente ouvi com atenção foi o Scary Monsters, já tardiamente na carreira dele. Parecia a coisa mais estranha, fria e assustadora que… Tinha qualquer coisa de muito interessante e sedutora, mas não era algo amigável, era… Demorei algum tempo até compreender esse disco. Sabes, ainda o ouço muitas vezes.
Jian Ghomeshi: Foi em 1980, portanto, tinhas 15 anos…
Trent Reznor: Sim. Por fim, a partir daí e durante os dez anos que se seguiram, comecei a percorrer o catálogo dele para a frente e para trás até ter aterrado no período de Berlim. E então, juntamente com a mitologia que o rodeia, porque eu não estava lá, não comprei o disco quando saiu e não vi qual era a opinião do público na altura do disco, mas, para mim, foi como encontrar um artista que parece não ter apenas criado uma identidade maior do que a própria vida como também, depois, enquanto essa identidade ainda estava em crescimento, a deitou fora e criou uma nova. E a seguir, deitou fora aquele álbum e criou um novo. E, aparentemente, saltando de género em género e de estilo em estilo corajosamente, não colocando a carreira em primeiro lugar, não pensando em termos de “ei, isto teve sucesso, mais vale agarrar-me a isto”. E foi uma coisa que também aprendi depois de ter a certeza do que queria, que isto também é um negócio, sabes, também é um estilo de vida. Será que a minha vida estava melhor agora que algumas pessoas tinham comprado o meu primeiro disco e que eu podia morar num apartamento e não me preocupar com a conta do gás, o que em certa altura da minha vida tinha sido uma grande preocupação? Gosto de não me preocupar com isso. Ok. Estas pessoas gostam daquela música que escrevi… Devo satisfazê-los? Será que tenho uma obrigação para com eles ou será que deveria esquecer isso tudo e seguir o caminho que acho que o Bowie seguiu? É algo com que ainda hoje me debato.
Win Butler (Arcade Fire)
Entrevistado em novembro de 2013
Win Butler: Conhecemo-lo em 2003 ou 2004. Era o nosso primeiro espectáculo a sério como cabeças de cartaz em Nova Iorque e estavam lá ele e o David Byrne e, da vez seguinte em que tocámos em Nova Iorque, cantámos com o David Byrne e o David Bowie estava presente. Portanto, sentimo-nos muito bem acolhidos em Nova Iorque. Ele apoiou-nos muito e sentimos uma ligação em termos musicais, foi um pouco como conhecer um professor de música que sabe de tudo. Bom, ele tinha cantado muitos dos coros em discos do Lou Reed e do Iggy Pop, assim como em muitas coisas em que o seu nome não surge, e, para mim, aquilo que se revestiu de significado foi uma frase em Reflektor (primeira faixa do álbum do mesmo nome, de 2013) que sempre se destinou a ser cantada por uma terceira pessoa, já que o resto é entre mim e a Régigne (Régigne Chassagne, esposa de Win e igualmente elemento da banda) e havia uma frase, uma parte da letra, que era mesmo perfeita porque estávamos a gravar nos Electric Lady Studios, que foi onde ele gravou Fame e entrámos e ele não tinha lá estado desde… Ele disse: “A última vez em que aqui estive foi na cave, a gravar Fame com o John Lennon”. John Lennon tinha cantado os coros daquele tema e foi absolutamente fantástico tê-lo a cantar coros para nós, no nosso disco, no mesmo estúdio e vê-lo fazer uma espécie de imitação da sua voz em Fame numa das frases. Então, em termos artísticos, sentimo-nos… Acho que ele tinha essa sensação de haver uma espécie de completar de círculo e, apesar de Reflektor não ser de todo sobre Fame, acho que, filosoficamente, as canções intercomunicam.